segunda-feira, 10 de junho de 2013

VIAGEM CXXIV - VESTES NO ESCURO

Reprodução [sítio abaixo]

Pelas vestes escuras, ele nem podia ver quem era.
Quem vinha se apressando.
Quem caminhava em sua direção.
Sentiu um leve cheiro de suor.
Vestes de suor, tão-somente?
Pelo grande breu no túnel, que de sem-fim
o prostrara, ergueu a cabeça,
esfregou os olhos e tentou ver quem vinha.

Mas pelo cheiro de suor decifrou ser outro ser
igual a ele; de mesmo tamanho...?
que talvez vagasse por ali com muito mais tempo e
desenvoltura pelo sinuoso traçado debaixo da terra.
Nem sabia como parar ali fora.
Nem o porquê.
Os passos aproximam-se, pisando em galhos secos,
rangendo uma porta aberta que dava não sabe para onde,

nem de onde vinha, para onde fechava.
Bem perto, bem perto. Tão perto que ouvia sua respiração
serena, calma e pausada.
De repente um ar gelado eriçou-lhe os pelos um tanto fartos
das pernas e braços e costas e pelo corpo todo.
Ele levantou-se - não deveria receber ninguém naquele breu sem-fim 
recostado em uma parede trajada de limbo.
Sentia então o hálito quente em meio à temperatura baixa.

Não teve medo, não teve coragem: quedou-se sóbrio.
Permaneceu ali, olhando pelo escuro, aquilo que apenas ouvia
sentia e cheirava.
Pousou a mão pesada em seu ombro nu; isto o fez desatar em choro
e desfalecer no chão coberto de poeira.
Aquele foi embora; ele, derrubado, ficou por ali tentando compreender 
o que se passara. Em vão.
"Um dia, dia destes, desisto disto tudo e faço igual: vou-me para longe".

http://x-amaterasu.deviantart.com/art/Dark-Tunnel-310866795

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