sexta-feira, 23 de março de 2012

VIAGEM XLIII - LÁ EM ANDRÔMEDA

Reprodução, a galáxia
Qual sua dúvida? Ir ou ficar? Não minta, você já se decidiu.
Você não poderia se perder de mim, aumentar a distância que nos separa.
Agora nem nos vemos.
E porque disto tudo?
Caminhar para o outro lado para realizar o que? 
Dar as costas a toda esta experiência vivida é trair um aliado no meio de uma guerra contra o mais poderosos inimigo e bandear-se para o lado dele.
Sabe o que é isto?
Mais que traição. É um menosprezo atroz.
Vigiar as grandes maquinações que você engendrou para aumentar a distância é de um desequilíbrio de um dia de chuva a derrapar os pneus em uma estrada vazia. Sem socorro, sem para-médicos. Como naquelas paralelas dos pneus na água da chuva.
(não há boca-a-boca)

Eu fui viajar para longe. Quis mesmo ir à Andrômeda, na espiralada galáxia maior que temos como vizinha; espiral igual ao DNA que possuímos em nossas pequeninas células.
Fiquei matutando: ir para um lugar bem pequeno poderia ser uma ideia melhor. Abstrair ao ver tantos congêneres a mim. 
É que Andrômeda tem aquela calma que eu tanto preciso depois do abandono na estrada: a porta se fechou ao descer do carro, o estalido foi seco e metálico.
Então viajei para lá. Passeei com calma e atento a tudo aquilo no vácuo que só o universo tem. Silêncio de minha alma foi tocante.
E quase chorei. Não é dó de mim não... Porque ter dó de si não é coisa que valha muito em uma estrada vazia. E Andrômeda não é vazia: contém aquela paz que agora eu tanto necessito. E que só eu posso dar a mim.
Chorei por você e no diferente ser que se tornou.
Você desapareceu na estrada. Ao contrário dos filmes de amor nos quais aqueles que abandonam sequer olham para trás, você olhou. Três vezes. Na primeira, fez um gesto com as mãos porque viu que eu me levantava do chão para lhe seguir. 
"Pode parar". Li em seus lábios. As outras duas vezes que restaram, eu já estava a caminho daqui onde estou.
Foi aí que me dei conta que não há sofrimento que possa ser pesado em prol de algo. Fui para o outro lado. Lá pelos lados do vácuo da galáxia de Andrômeda.
Vizinha à Terra,  seu pacifismo atávico vai me fazer bem. Dormirei um sono de um justo.

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