sexta-feira, 16 de março de 2012

VIAGEM XL - RECORTE

O trânsito flui para uma quinta-feira, já no fim do horário dos nobres, e a desenvoltura em passear é maior. Bom que seja assim para pessoas como ele... É,  igual não sabemos se é factível; ou que se assemelhem, ao menos com esta nossa persona.
Reprodução
Danação maior não poderia ser ficar parado há horas em uma rua apertada, como aconteceu da vez anterior. Faz alguns dias; quantos ao certo, ele nunca sabe. Porque não é todo dia que sai para executar sua tarefa, recortando bairros específicos e andando para  "tomar a temperatura" dos humanos. 
Tem o dia do sim e tem o dia do não. Que é o contrário para cada uma destas partes. envolvidas no processo (kafkiano?).
Sem contrariedade e logrando êxito, como as paradas de sucesso que tocam nas rádios. Certo como o azul que está sobre nossas cabeças.
Vagueia por ali, por aqui. Vai um pouco mais para lá, faz a meia-lua na rotatória, segue as placas sentido Zona Sul, lá pelos lados de...
--- Bom ter vindo cair na avenida Santo Amaro. Ela é bem diferente: estreita para mim. Pelo volume de carro que passa por aqui. E os terminais a cada 300 metros? Só entope mais o tráfego. Mas eu gosto, tem um ar de abandono, uma coisa que foi deixada para trás, remetendo a um passado... Bem, poderia ser àquele futuro dos filmes do futuro. Engraçado... como eles sabem como vai ser o ano de 2150, só para citar. A Santo Amaro tem sua beleza também aqui, sua diferença. No fim eu gosto.

Estaciona o semi-novo sedã de velho na esquina de ruela que corta a avenida do passado/futuro. 
Acende um cigarro e recosta sob o capô. Vê muitos nas ilhas centrais da avenida à espera dos ônibus que os levarão para casa, alguns demorando horas.
Muita gente, muitas escolhas podem levar a vaca toda para o brejo.
Ele pensa com esmero sem sair da posição que está e continua a observar a cena da noite de fim de verão. Os freios guinchando, os ambulantes, os carros dos bacanas.
Pela tarde, começou a sentir que algo o atrapalhava, nele mesmo. E agora não é diferente.
A barba não feita por dias acabava sempre o distraindo: começava a coçar se passasse dos 4 dias sem a lâmina fina e cortante. Embaixo do pescoço, perto do protuberante gogó ficava pior.
Automaticamente usadas, suas unhas acusam o seu comprimento exagerado.
Lixar não vai dar. Mas cortar pode ser uma boa distração "assim como quem não quer nada". 
"Bom para eu pensar, distrai", como dizia sua avó sobre as novelas e programas de auditórios de domingo, os quais ela não perdia nenhum.
Tesoura de jardineiro, uma um serrote, uma serra elétrica, um podão, lâmina para cortar metal, um cutelo e uma faca, das afiadas, é claro!
Estes aí de cima são perfeitos para cortar e recortar o que for possível de realizar. Para ele a dita realização acabava sendo exitosa à exaustão.
Ri desbragadamente. 
--- Quem lesse minha mente - um vidente ou médium - teria que me denunciar à polícia. Às autoridades tão competentes. É, o que eu preciso agora para distrair é mesmo meu cortador de unhas. Sem recortar nada.

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