quarta-feira, 7 de março de 2012

33 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - PROTEGER-SE EM CASA

Reprodução
--- Escolha a verdade de ser o que  você é, de outro modo, você não vai sair do lugar. Nem os outros (quem se importa com os outros? E com quem os outros se importam?) verão nada, só você patinando sem conseguir se mover. Ficar parado só pode ser coisa do passado", falava para ele mesmo dia após dia.
Verdade - todo o tempo esta palavra.
Quanto a sair do lugar, para ele, traduz-se, como certeiro o fato que sair do lugar só - e mesmo - quando assim quiser. Bastavam os caminhos do dia, andando... Sim, mais do que supomos e não apenas pelo picada casa-trabalho aberta em concreto. Muito mais, muito prazer envolvido.
Relacionava-se com o mundo de modo educado procurando não impor seus instintos de solidão aos outros. Funcionava assim para ele. Em razão deste aspecto ser já de longa data, preferia não mudar em nada.

Sentia-se muito verdadeiro para ele, o mais importante de toda sua vida. Para os outros, a verdade ele sempre estampava na cara e quem estivesse preparado para se permitir perceber, perceberia. Na profissão, aquela que resvalava na realmente desejada - de escritor - rascunhava-se seu dia assim chegasse - depois da trilha aberta - em sua sala, à mesa, um tanto bagunçada pelo dia anterior. Dotado de paciência infinita porque aprendera a conhecer os homens e a entendê-los desta forma: como são exatamente.
Não ia a festas fora do ambiente no qual ganhava seu sustento, sustento este que mantinha seu castelo limpo, arejado e invencível - sua cidadela inexpugnável. Confratenizar-se podia ser interessante para ele, desde que fosse lá: no trabalho.
Reuniões ao longo dia, resultados, metas. Tudo explicado e debatido por ele com a verdade sobre todos os seus atos e falas. Lutava para não ter que viajar fora de São Paulo: avião nem pensar - ia por pura obrigação profissional. "Usar do pragmatismo" repetia quando via-se envolto naquele tumulto de terminal de passageiros sendo sufocado por uma pinturta do momente que ocupava toda a tela.
Nos rostos, aqueles rostos variavam sempre de acordo com o dia da semana, ele via satisfação nas reuniões por terem alguém de um trato tão raro.
Fazia aquilo porque se comprazia de estar tão logo tudo terminasse em seu castelo, ver seus bichos. Terminar sem demorar um minuto a mais. Voltar para casa, deitar, beber algo e quem sabe ter alguns sonhos bons.

Da verdade dos sonhos, aquela onírica verdade que destoa da realddade porque sonho não tem verdade nem mentira. Sonha-se tão-somente e "dê-se por satisfeito".
De verdade hoje possui prazeres: o trabalho, os bichos e sim... O castelo. Resiliente. Resistente, impactado por tantas noites sem dormir, e por horas de completo apagão biológico.
Houve um dia da semana por estes tempos em que chegou bem mais tarde no castelo. Estava ofegante, derramava suor e exalava cheiros. Somatizou tudo até a chegada na porta, girar a chave e abri-la: a verdade dele.
Felino e Rex proporcionaram um estado de freio no coração arritmado que batia em descompasso: achegaram-se a ele.
Um olhar pela sala toda - tudo como antes, até mesmo a bagunça: a verdade do castelo.
Trancou a porta principal do castelo e pôde começar a se pacificar. 
Em minutos deitou no chão. Dormiu de verdade, alheio às brincadeiras dos outros dois.

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