segunda-feira, 28 de junho de 2010

007 - CONTRATEMPOS

Verdade mesmo que ele nem tinha horário regrado para nada: comer, banhar-se, limpar o que fosse, andar de bicicleta no Ibirapuera, procurar emprego e sair para beber... 
Tudo isto era desprovido de tempo cronometrado, o que permeava sua vida mesmo era os contratempos. E apareciam com frequência, para ele vendo a vida dos outros, inusual. Não que aqui coubesse o papel de vítima biologica ou emocionalmente, só afirmando que ou ele procurava os contratempos ou estava fadado a isto sem que procurasse sarna para se coçar. 
Por exemplo e este lhe é bem claro e caro: sua presumível capacidade de respirar - igual a que existe para os 7 bilhões de pessoas, nossos convivas - quedava-se mais e mais em patamares insuficientes. E porque? Bem, havia nascido com tudo que era possível de complicação no trato aéreo do seu corpo. Lembra-se muito bem fora impedido tantas vezes em sua infância de realizar determinadas brincadeiras tais como uma guerra de travesseiro, acampar com os amigos da escola, brincar de pega-pega, jogar bola; até rir muito poderia desencadear uma leve insuficiência respiratória. 
Um desvio de septo. Alergia a poeira, a mofo, a tinta molhada... 
Quanto ao pó branco, aquele que vem da terra do índio cocaleiro, seu nariz reclamava mas ele mandava para o inferno. E resiliente que tornara-se psicologicamente, nem dava a correta preocupação para a 'não-alergia'.
Quando adulto, mestre que se tornara em fazer sexo, a tal dificuldade em respirar atrapalhava sua longas pedaladas pelo Ibira e por São Paulo toda. E de uns tempos para cá, cansava-se com mais rapidez quando na cama para foder. "Eita, como tô ofegante. Tenho que disfarçar".
"Nossa, aquela vez que fiz a avaliação física fiquei quase sem fôlego. Foi bem ruim. Passei só porque o educador físico é primo de segundo grau". Recomendaram-no que pegasse leve com os pesos para que não se sobrecarregasse os alvéolos.
Neste mesmo dia, Simão passou com "louvor". Não que fosse também um primor físico, entretanto não detinha o tal contratempo para respirar. Somente mais magro do que desejava o que poderia ser resolvido com seu $ e um intenso treinamento. "Com $ todo mundo fica mais interessante" replicava.
E tossir. Duílio tossia repetidamente comendo bebendo ou até com a própria saliva. Aí vinham aqueles longos minutos de recuperação para que tudo voltasse ao normal. Irritado que ficava logo pensava que é "assim mesmo. Devo estar a pagar algo do passado". Nem sabia se tinha vivido no passado.

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