sexta-feira, 19 de outubro de 2012

55 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - NA MÁQUINA DE CAFÉ

Reprodução [sítio abaixo]
Cedo, muito cedo, acordara hoje. Talvez em razão de ter dormido 11 horas desde ontem porque estava cansado e sem fome, despertou tão logo os passarinhos começaram a piar como taquaras rachadas. O que fez foi dar atenção aos companheiros, brincar um pouco com eles, trocar a água, coisas que não se alongaram nem por meia hora.
Abre a janela e o dia inicia a se fazer com os inerentes barulhos e visões que o caracterizam tão comumente na cidade de São Paulo: gente indo, gente voltando, trabalho, diversão, pobre, rico e quaisquer outras características econômico-antropológicas.

"Aqui a gente nunca enjoa das pessoas e dos acontecimentos. Eu não enjoo porque a diversidade é tamanha que torna-se improvável que eu veja repetidamente pessoas que eu vejo dia após dia e que as coisas pareçam ser iguais. Mesmo para mim, que tenho aqui em minha cidadela invencível o que preciso, eu gosto de olhar e saber que moro em um dos lugares mais habitados e cosmopolitas do mundo. Uma cidade que é pertecente a este mundo, que não se volta a si mesma, que não se satisfaz, que quer mais... E que segue sem pensar muito. Ela vai, é isto".

Tudo isto pensando e fazendo o café que já se espraia pelo ar como palpável, diretamente parecido com os desenhos em que o cheiro de algo se faz enxergar. pegar. Nesta hora, Felino ronrona entre suas pernas balançando o rabo na ponta se esfregando nas canelas cabeludas desnudas; Rex, ao contrário, mastiga o "milésimo" osso de brinquedo comprado na loja do veterinário quase amigo. Ele o ensinara que latir pelas manhãs deve ser um ato comedido para manter a casa mais ou menos barulhenta. Pronto, o conselheiro-mor reclama miando, olhando profundamente para que lhe seja servida a ração de vísceras de peixe. O príncipe adora também, mesmo que inaproprida para seu estômago canino.
Agora o dia se compôs, nublado, é fato, mas já é claro como... O dia é. 

Logo ao chegar na editora, tratará da reunião antes do almoço com o veterinário com relação ao livro e a quase certa impressão. Será a primeira de uma longa série e a de hoje é importante para que se crie uma empatia - econômica e profissional - e que assim, possam desenvolver um trabalho no qual todos saiam ganhando.
Vestido quase como de costume, a não ser pela gravata violeta, em tom escuro como a noite, calçando os novos sapatos que ainda lhe apertam mais o pé direito que o esquerdo, sua indumentária de cor preta social cai muito bem em seu corpo. 
Por conta dos preparativos, antes das 9h sentado em sua sala, analisando os arquivos em data-show, queda-se absorto naquilo: o trabalho. E como Caxias que é, tudo pronto desde ontem, apenas fazendo uma revisão para não haver descuidos. Telefone ao lado, no silencioso, só chama sua atenção porque se acende quando uma mensagem é enviada. Do rapaz de sorriso metálico perguntando se queria tomar um café na padaria de sempre. Respondendo que não pode sair, ele liga.

--- Bom dia. Tudo bem com você?
--- Bom dia. Como você está? Rouco, ou impressão minha?
Do outro lado um riso como o de antes que ele via penas manhãs no meio da balbúrdia.
--- Estou sim. Uma dor de garganta que só hoje melhorou um pouco, estou de licença médica até segunda-feira. Estou aqui embaixo da editora, no saguão...
--- Não se identificou com a moça?
--- Vamos tomar um café? Na padaria? Se não estiver ocupado, o que é complicado porque é mais fácil falar com o Obama do que com você.
--- Melhor. Sobe aqui, tem um capuccino de máquina que você vai gostar.
--- Subir? Mas...
--- Claro. Venha. Já estou ligando para a recepcionista para ela lhe dar o crachá de visitante. Está com o RG aí né? Venha, porque não posso descer agora.

E ele sobe sendo recebido logo na saída do elevador no 11º andar naquele dia de mormaço matinal em São Paulo. Um abraço contido é o cumprimento entre ambos que logo entabulam uma conversa sobre trabalho, mudança de endereço, café e a laringite adquirida no fim de semana que passou.
O encontro de uns 40 mnutos voou que mais se parece com quatro minutos. Ele o observa indo embora encostado à máquina do café - tomaram dois cada um - se recordando de tê-lo visto como um legionário a caminhar com ele e com o outro por entre caminhos úmidos e frios da Escócia romana. "Esqueci de contar que sonhei com ele e com o veterinário três vezes, que eram soldados sob o meu comando e que andávamos sem parar. Da próxima vez eu não esqueço".


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