segunda-feira, 24 de setembro de 2012

VIAGEM LXXIV - UMA ESTRADA VICINAL

Reprodução [sítio abaixo]
Percorria estradas com mais frequência antes de descobrir e refinar seu trabalho incessante pelos dias que virão até o fim dos dias. Porque antes, nas rodovias, aquelas municipais meio ermas, com tráfego sazonal de caminhão de cana-de-açúcar, de laranja, transportando boi o que mais seja, tornava a tarefa mais fácil, mas menos visível, menos palpável. Fora dada a largada.

Por um tempo, sua auto-cobrança esteve controlada: satisfez-se nestes caminhos longe de grandes centros urbanos. Dirigia horas sem parar até que encontrasse alguém "merecedor" de seu trabalho-castigo.Havia dias que as horas se arrastavam e nada acontecia. Conheceu cidades todos os rincões do Estado que nunca sonhara existir, com nomes esquisitos, alguns engraçados, de santos, de topônimos; lembrava muito do cheiro da terra molhada quando calmamente dirigia pelas cidadezinhas esquecidas. Ele voltava ouvindo rádios locais na esperança última do dia, fumando e comendo chocolate. 

Verdade que não é afeito a tendências nostálgicas. O que não o impede de sorrir quando se recorda das estradazinhas vicinais de terra ou asfalto, onde parava por vezes e ficava olhando a imensidão imaginando o que o esperaria, e assim guardar o sentimento com prazer e gostasamente no passado.

Depois de um tempo, com confiança aumentada e consolidada, transpôs mais degrau e passou a rondar as cercanias de cidades grandes do interior, chegando perto de São Paulo em suas franjas em direção ao litoral sul e interior com direção ao Tietê.
Também quedou-se controlado com mais este vetor desenvovimentista de sua idiossincrática arte de corrigir o que ninguém mesmo corrige e que por vezes, reforça-se.
Neste degrau, iniciou jornada dupla, manhã e tarde, ou manhã e noite. Contentou-se e conteve-se sobremaneira diante da evolução. O espectro de escolhidos foi outro fator que se destrinchou abarcando mais e mais gente de todos os tipos, atingindo mais todas as idades e igualando a proporção entre homens e mulheres, e entre adolescentes, jovens, adultos e os da "boa-idade"; crianças de fora.

Até que um dia, voltou seus olhos castanhos-tempestade, para a grande urbe brasileira, a verdadeira capital deste imenso país-continente, "sedenta por  minhas correções". 
Logo, alcançava o frenesi todo dia alimentando de tudo que precisava para viver fazendo aquilo: correções. Avenidas e ruas substituíram as vicinais.
Porque se aqui é tudo 24 h, com São Paulo que não pode parar, então achou para sempre seu lugar e daqui não sairá mais. Certeza matemática: 2+2=4. 
Nas horas de sol, o trabalho é maior, conquanto mais previsível: os merecedores ficam mais fáceis de ver e de abordar e de acertar.
As noites rendem trabalho extra porque há gente transitando por São Paulo, indo e vindo de lugares, em geral insanos, com encontros e desencontros bons e ruins (esta distinção não lhe importa). Para ele não: só interessa os encontros e só acontecem encontros. 

"É minha competência elevada ao extremo. Mas é tudo mentira, porque amanhã serei mais competente e depois de amanhã, mais ainda... Eu não paro, eu não reformo, eu não tenho concorrência. Eu sou o único".

http://www.lophoto.com/tasmania/bestof/country_road_sunset.html

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