sexta-feira, 21 de setembro de 2012

50 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - ESCREVER É SOLIDÃO

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Diferença pouca há entre escrever e a solidão optada, querida e mantida aqui em seu castelo inexpugnável, vertido em segurança por onde quer que ele olhe todos os dias ao chegar à noite e ao sair pelas manhãs.
Prosa então é mais solitária que qualquer poema que pudesse escrever tendo como mentor seu estado emocional, o que para ele, não se configura em solidão optada, tampouco extremada, "porque há o sentimento, o gostar, a saudade, juntos - ou mesmo que se apresentem separadamente -, eles todos são alguma companhia. Doídas? Provável, mas estão ali se contemporizando entre os dígitos do teclado e a vontade de meus dedos".

Rimar para ele traz dificuldades intransponíveis como o 'fosso' que delimita sua zona de conforto do restante de São Paulo, do Brasil, da América do Sul e da Terra: ele - o fosso - o protege de tudo e de todos e nada e a ninguém é permitida a entrada em seu velho castelo habitado há tempos por três seres cabeças de sua vida.
Reverso lado do poema é a escrita em prosa, na qual ele se julgava o suficiente bom para vender um tanto de exemplares, ainda que longe de ser imortalizado pelos fardões da Academia Brasileira de Letras, onde o desejo de "morar" sempre foi inexistente. No estilo livre - a tal da prosa - sentia-se livre para criar e mudar situações e personagens sem a preocupação primeira com rimar e métrica. Então, aqui configura-se um paradoxo, porque ler poesias/poemas é um prazer súbito para ele, mesmo que não seja nada bom quando tenta.

Quando escrevia, tempos atrás de penúria e pindaíba, as horas passavam velozes tomando todo o seu tempo de vigília. Felino, o conselheiro-mor, testemunhou por várias vezes deitando-se ao lado do teclado - cena tão clássica... - e ronronando sonolento e tranquilo; fora seu companheiro inseparável em tempos de estagnação financeira. Ele teve, inclusive, alguns leitores atentos e perspicazes à época.
Hoje, se se sentasse para achatar sua retaguarda por hora talvez saísse algo de bom. Nada de novo, mas sim uma agradável leitura por parte de algum simpático leitor que se predispusesse em cercar-se da sinestesia das palavras e ideias. 

Preferência por reler e mudar algo ali de maneira pontual parece agradar-lhe mais nestes dias de hoje em que o tempo para escrever escasseou, ou mesmo acabou. "Não tenho tempo para estes devaneios de louco". Hoje, o que vale e lhe dá prazeres individuais - prazeres estes condicionados quase sempre dentro da construção invencível - é poder gostar do que gosta sem ter explicações a serem proferidas a ouvidos moucos. O $ proporciona levar uma vida de solidão e de releitura de seus escritos. 
Substituição daqueles gostos e daquelas explicações de antes, dos tempos de dureza fálica no bolso, pelos de agora: sofisticados em serem simples e donos de si mesmo. Foi à toa que resolvera se afastar depois do massacre de amor/traição/dívida sofrido nos tempos de antes? 
Claro que não. Conforto e tranquilidade neste nova solidão na intangível armadura encarapitada no 25º andar do edifício contorcido de São Paulo (sim, está havendo tentativas de reestreias no mundo da civilização, aquele em que as pessoas se relacionam, mesmo que seja aleatórias à sua vontade: têm se embrenhados até nos sonhos).

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