sexta-feira, 28 de setembro de 2012

51 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - O GATO E O TECLADO

Reprodução [sítio abaixo]
Um frio atrasado, que deve ter-se perdido do caminho da Argentina para o centro-sul do Brasil, o faz, ao acordar, desejar ficar deitado e cada vez mais se embrenhar nos dois pesados edredons em tom escuro para não mais sair da cama quente e aconchegante; mesmo que sozinho em corpo, conseguira esquentá-la durante a noite. Isto de estar sozinho já vinha de anos e este fora mais um de seus invernos que passou solitário. Pelo menos já é primavera.
Mesmo com a promessa de calor "que virá, com certeza" (repetia como um mantra), vasculha pelo quarto esmaecidamente iluminado pelo sol lá de fora à procura de... Sabe-se lá o que. Conselheiro-mor está deitado eternamente em berço esplêndido no felpudo tapete junto ao príncipe herdeiro, ambos retorcidos. 

"Se eu fosse um soldado de Roma, mesmo um chefe de uma legião, um general... Não, um general não. Ele deve amargar uma solidão ainda maior que esata da minha realidade. Uma posição intermediária. Teria que levar meus comandados por entre as charnecas úmidas e congelantes do norte da Britânia para alcançar a Escócia e então submeter aqueles povos 'bárbaros' que vieram não sei de onde. Devem guerrear nus como os celtas na Gália assim fizeram e que sobressaltaram os 'pudicos' romanos na luta? Só comprovando. Eu tenho dúvidas, é muito frio nas ilhas..."

Pula da cama que até mesmo Felino se surpreende e pula junta: uma acrobacia humana e felina de encher os olhos de qualquer gato e de qualquer ginasta olímpico.
Tem a ideia de começar a escrever um romance que misturasse passado e presente, lutas e tempos de paz, solidão e dezenas de personagens, em São Paulo e na Escócia, sendo um habitante atual e um chefe legionário romano.
Sem estacar um instante pelo caminho, vai à cozinha preparar o café de todo dia, fervendo a água. Corre em direção ao quarto de estudo para ligar o computador (que inustadamente, fora desligado na madrugada) e estabelecer um pequeno roteiro que fosse à guisa de não perder nenhuma de sua ideias para o romance ficcional que vislumbrara deitado no calor da grande cama-solidão.

Ronronando, Felino se enrosca em suas pernas cabeludas pedindo colo; prontamente aceito. Então, em posse da fumegante xícara de café, sem ainda ter comido nada - a não ser oniricamente, porque tivera um sonho pornográfico e melado ainda estava - ele começa a esboçar aquele que deve ser a melhor obra que jamais escrevera. O gato se assenta com mais conforto ao lado do teclado e o observa com seu longos bigodes brancos parecendo desvendar tudo o que ele pensando está. Enquanto isto, Rex - o estabanado - divertia-se à volta com o osso de brinquedo comprado na clínica: rosna, joga longe, morde com vigor e corre com ele pela casa, espantando por certo o frio fora de hora. Inicia a digitação com o gosto amargo do café na boca, com alguns tópicos que serão tratados como primordiais; um deles é o aumento do número de personagens. 
Em um átimo, se lembra do livro que o quase amigo veterinário quer escrever: "Cão e Gato, os amigos da hora", foi o título que ele lhe passou; diga-se que gostou e chamou-o a atenção que o título tem sim bom potencial de prateleira. 
Retoma os olhos à tela de seu computador no quente quarto com aquecedor.

--- Tem que existir mais gente nesta história fazendo acontecimentos, não pode ser igual à minha vida tão pouco povoada; uma é ficção, outra é realidade. Para diferenciar, mesmo que eu não goste de muito carnaval ao meu redor, a história que mistura tanta coisa tem que ser mais atraente, mais quente... E tem que ser escrita agora. Posso me perder se não começar enquanto tudo fervilha na minha cabeça. 

http://bitsandpieces1.blogspot.com.br/2006_05_14_archive.html

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