domingo, 15 de julho de 2012

VIAGEM LXI - DAS VONTADES E DESEJOS

Reprodução
Um dia destes, quando passeava sem rumo nem destino, só observando, em um lugar de grande movimento de gente e cachorro na movimentada São Paulo, de um dia atribulado, um cara com seus 30 e tantos, encontrou em uma das mesas externas desocupadas de uma cafetaria apenas um computador de mão, aberto, com um arquivo ainda não salvo e escrito em word em linhas frias. E o fim, negritado estava.
Chamou sua atenção na fria manhã de julho e resolveu estacar-se defronte sem se sentar e ler aquelas letras que deveriam - quiçá não - fazer algum sentido inteligível. Em pé, se pôs a ler com interesse redobrado.
(A mensagem chegou-me, enviada não sei por quem, e a transcrevo aqui sem negrito, nem caixa alta, nem sublinhado)


Das vontades e desejos de um homem
"--- Quais são os seus desejos, perguntou a voz.
Ele, balbuciando como um bebê babão irriquieto, ficou tentando responder algo que impressionasse.
--- São tantos... Pode ser o primeiro... Sabe, eu tenho muita vontade...
A voz então percebendo que dali não sairia coelho algum, energicamente retrucou.
--- Então é assim que você encara a vida? Balbuciando? Vamos nada bem desta forma. Qual é o maior de todos os seus anseios, desejos? Ou vontade, como queira chamar.
O homem vendo-se acuado mais uma vez, atrapalhou-se por completo e em vão vasculhava veloz seu cérebro ainda inteiro como um queijo suíço alguma resposta que contemplasse respostas dignas e condizentes com sua idade e postura social.
Esperando, a voz começava impacientar-se.

--- Pelo visto, parece que vamos ficar o tempo todo hoje neste passo de tartaruga das Galápagos. 
--- Nunca tive que reponder algo assim...
--- Teve sim. Todos os dias você responde e não se dá conta. Das pequenas vontades devem se formar as maiores, aquelas que estão encobertas esperando liberarem-nas.
Segundos de embaralhamento. Sente o suor escorrer pelos sovacos cabeludos; sente o suor empapar sua cueca na frente, atrás, dos lados. Toda ela molhada de suor de nervosismo por parecer um idiota que não sabe responder a nada. Desejou desnudar-se e livrar-se das roupas 'grudentas'.
--- Eu tenho algumas vontades, ou anseios, ou desejos. 
--- Fale-me um ao menos. Pondere e vasculhe sua mente.
--- Uma brisa de verão em uma tarde quente em uma ilha debaixo de coqueiros com meu amor, ambos nus sem pensar me nada mais além de nós.
--- Isto plágio de uma música daquele francês.
--- Mas eu me identifico com isto...

O homem viu que a voz agora - e inexoravelmente - alterou-se tornando mais grave a alta.
--- Algumas opções ser-lhe-ão dadas por mim. Não se encante com isto porque é só aqui e agora. O melhor lugar do mundo não é aqui, nem agora. Mas o pior lugar você já conheceu.
--- Quais são as opções?
--- $ claro.
A voz cometia este deslize propositado para ver o brilho nos olhos de seu interlocutor.
--- Pode parar. Não quero muito, não quero pouco. Quero o que me couber ter de $.
Uma leve surpresa de pronto disfarçada e a voz sucumbiu em segundos e foi-se embora para longe. Talvez fosse habitar o Olimpo acompanhando Zeus no cuidar do mundo. Talvez no fundo do mar, confabulando com Netuno.
Conta-se que a verdade não foi nem para o alto, nem para baixo. Foi morar no cérebro de outros, alguns daqueles que respondem de imediato às perguntas sobre desejos, ou anseios, ou vontades... Como ela queira".

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