segunda-feira, 30 de julho de 2012

44 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - SONHO INVADIDO

Reprodução
Ao acordar perde-se um pouco no tempo e por um átimo não se lembra qual era o dia de hoje. Sabe de imediato que seu estômago ronca feito leão. Não teve jantar à noite e da sexta foi pelos braços do deus do sono até a manhã de sábado. Seus pés nus tomavam o vento da festa da sacada causando certo desconforto. Encolheu os dedos estralando-os.
Ainda embaçado sem conectar tempo e espaço, o conselheiro-mor acordado o fita e mia baixinho reclamando por comida; já o príncipe do castelo ainda dorme encostado nele sem sinal de vigília próxima.
Levanta e começa a satisfazer a demanda de Felino e a movimentação desperta Rex, todo esbaforido ainda com a cara amassada, põe-se a abanar o rabo zunindo pelo ar.
Faz tudo com vagar determinado em não se esquecer de nada. No castelo ele nunca fica sem o que ele precisa, porque, como sabemos, é sua fortaleza invencível e instransponível. Ali, ninguém entrava fazia um bom tempo - claro, que a senhora da limpeza sim, mesmo que não possuísse a chave do 'apartamento'. Porém, outros seres convivas da espécie ali não frequentavam para visitas.

Ollhando pela sala, sentado na poltrona vestindo de cueca e camiseta, os objetos quedam-se espalhados, lembra-se que ontem, antes de dormir folheou o grande atlas comprado há pouco; aquele que é necessária uma mesa que o sustente tamanho peso. Ainda está aberto pelos caminhos históricos realizados pelos homens do Império Romano (o atlas é histórico e geográfico).
Traçou linhas imaginárias de viagens ainda a serem feitas por locais de turismo históricos mas fora da alta temporada, porque assim - supõe - poderia ser possível visitar tudo com traquilidade e muita atenção. Os mapas possibilitam que ele estude as estradas e por onde percorrer. Imagina-se em uma estrada - uma via romana repaginada - passeando em um daqueles carros italianos com seus dois amigos juntos em dia de verão esturricante.

Roteiro preparado ele já tem três no arquivo de seu computador, cortando o Meditarrâneo de norta a sul e de leste a oeste; outro que vai da Irlanda até São Petersburgo; o terceiro destrincha o Brasil em seus caminhos mais distantes da brisa do litoral onde barquinhos vêm e vão há décadas.
Recosta-se e com a xícara do café acabado de passar põe-se a dormitar no meio da manhã. Fecha os olhos e rememora o caminho - pela grande ilha - da invasão dos legionários. Dura apenas alguns minutos porque o telefone acusa mensagem recém recebida. 
"Feira de adoção de vira-latas no Clínica 'O Mundo do Cão', hoje das 10h às 18h. Contamos com seu apoio e carinho", foi a primeira; a segunda, pessoal, o convidava o veterinário do príncipe: "Tudo bem? Vou fazer uma feira de aoções aqui na clínica. Seria legal se pudesse vir e contar sua experiência com o Rex. Abraço, Marco Antônio".
Fica surpreso com o convite tão assim... Pessoal.
O sono agora lhe ordena que vá à cama e só saia de lá mais tarde. Sempre acontece assim quando é tomado por fatos imprevisíveis de ordem pessoal.
Caminha lentamente com ambos seres de quatro patas atrás.
 Nem cinco minutos e o sono vem pesado e invasivo.

"Tudo foi dominado por tantos quilômetros quadrados das terras até então conhecidas e sentia-se bem assim em fazer parte daquele exército que o mundo temia, mesmo os mais bárbaros: protegia e era protegido.
Sim, agora estava vestido de legionário comandante de um pequeno grupo e combateria logo mais os invasores ao norte da Muralha de Antonino para manter com segurança a Muralha de Adriano. Caminha com mais alguns acompanheiros por um estreito caminho por muito tempo mas o cansaço não aparece. 
Desta vez, os pés estão calçados e vê-se coberto no rosto por uma barba rala de alguns dias. Seu companheiro do lado possui uma barba densa de vários dias e entradas generosas na cabeça: é o rapaz do metalizado sorriso à esquerda; à direita, todo barbeado com o cabelo na medida do quer possível penteado, está o veterinário. São os três somente.
--- 'Todos vocês no meu sonho? De novo? Pensei que fossem sentinelas do castelo... Mas não meu companheiros aqui.
--- 'Claro que sim', diz o metalizado.
--- 'Porque não poderíamos ser?', pergunta o veterinário.
--- O sonho é meu, o caminho é meu. A muralha a ser alcaçada é minha. Vocês estão de intrusos.
--- 'Nosso. Você recrutou a gente. Escolheu-nos para sermos seus guardas-costas nesta empreitada. Eu nem queria vir porque estou coma boca cheia de aftas por causa do aparelho nem podendo comer direito, só líquido mesmo.
--- 'Você pode voltar, pode ir embora'.
--- 'E abandonar você e o Marco? De jeito nenhum, foi você mesmo que me ensinou a ser fiel a quem lhe é fiel. E este é o caso aqui de todos nós. Lembra? Eu aprendi com muitoa dor a ser o que eu sou agora e grande parte foi devido a você, ao que me falava todos as manhãs de café com leite.
--- 'Tenho pouco a falar. Só que o seu amor ao Felino e ao Rex, toda vez que faz uma consulta de rotina ou necessária, me faz acreditar que deve haver outros assim como você é... Neste mundo de invasões, guerras, mutilações. e vigarices. Vamos juntos, nós 3, depois mais para frente você vê o que fará com nossa companhia... Vamos?'
Acaba que se encontra, então, sem escapatória e antes mesmo que abra a boca, ambos o acompanham de perto seguindo-o de maneira inconteste e apresentando confiança que poucas vezes ele sentira".


Debaixo dos edredons, perto das 13h, ele acorda querendo-se levantar para tomar banho. Mais uma mensagem não lida no celular, o que significa que terá que ir à feira, mas irá perto do fim. Chega de invasões por hora: ele não sabe lidar bem com o fato. Sabe mesmo que as "14" chaves das portas estão intactas e resilientes. Anima-se e vai para o banho.

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