terça-feira, 31 de julho de 2012

VIAGEM LXIII - DESMEMBRAR À SOMBRA

reprodução
Desmembramento de todo aquele corpo
Desnudado e dividido antes mesmo de se quedar decepado.
Dúvidas sobre autoria da proeza inexistem; tomar dores tampouco adianta.
Houve o que é chamado de desfiguração dinâmica de sentimentos
daquele que foi separado em pedaços rotos.
Os ramos da árvore logo acima parece até que se vergaram
para tentar encobrir aquilo que fazia-se, sombreando sob sol a pino o que 
iluminado estava diante de olhos atentos.

Desmembrou-se um por um dos membros com maestria divinizada 
pelos imponentes deuses do Olimpo.
Braço, o esquerdo primeiro; depois, o direito.
Pés e pernas na mesma ordem.
O que mais faltava então? De todos estes sobravam
ainda a cabeça, o coração. O falo pênis seria partícipe do desmebramento
como testemunha 'cêntrica' de tudo que decorria - quem sabe ileso...
Passava das 13h, os galhos perdiam para o sol a sensatez da sombra de antes.

Danos causados por tamanha danação serão menores... Caíram em
descrétido para serem esquecidos para sempre na vastidão do campo onde a concentração soa ser matemática; como o tiro de misericórdia.
devem manter-se no local de onde vieram, do nada.
Só há ganhos, desmedidos e desabridos como o céu de uma manhã de verão. 
Drenando o azul para dentro dos olhos mortos dele.
Agora, no meio da tarde,a sobra fincava sua escuridão longe do quase
totalmente desmembrado corpo. Desvaneceu-se para longe e só observava.

Devem estar próximo do fim de tudo.
Do fim do desmebramento e do início do esquecimento,
pois assim que virarem as costas, a sombra estará metros e metros,
e as aves de cima virão esfomeadas passando perto dos galhos que em
determinada hora tentaram oferecer um pouco de conforto, de
dignidade para o triunfo final: decapitaram-no com facilidade inequívoca.
Morto, inerte e frio quase. Nem precisou-lhe que desmembrassem o coração.
Já havia parado antes mesmo de todo o processo. 

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