terça-feira, 22 de maio de 2012

VIAGEM LI - KM³ DE GELO

Reprodução, a vastidão de gelo na Antártida
No semi-novo sedã de velho recendendo a chocolate derretido, o passeio pelos dias de frio na megalópole paulistana tornam-se ainda mais introspectivos. Aprendera a ser assim porque dos outros cansara de esperar qualquer coisa que fosse além da duramente imbatível traição.
Das lutas inglórias, poucos querem e resistem. E glórias a eles.
Deveríamos entoar loas de paixão profundas pelos embates que travam contra X, ou contra Y e o pior deles, contra nós mesmos.
Facilidades existem em qualquer ponto deste planeta, seja no gelo quilométrico ao ³ da Antártida, duro, resistente e difícil... Seja na densa Amazônia ou nos milhões em São Paulo. Elas precisam ser descobertas pelos relés mortais e tomadas de forma desnuda para que as possuamos - as facilidades, porque são para poucos privilegiados.
Quanto às dificuldades, elas estão perto, ao seu lado, fustigando sua luta, ofuscando as facilidades e criando medos e complexos e não há muito o que se fazer contra isto.

--- A menos que você nasça rico, milionário e por isto, desligar-se do mundo e então viver longe deitado eternamente em um banco esplêndido de $. Porque eu não ia massacrar ninguém, não ia oprimir ninguém. Porque nunca fui dado a tal. Só balançar-me-ia embaixo de alguma sombra em um dia de calor. Faço o que faço porque levo uma vida bem parecida com as dezenas de milhões de brasileiros. E latinos né? Paraguaios que o digam, são dos mais sofridos. Pelo menos não têm um cocaleiro dos infernos na presidência que não come frango.

Ser pobre ficava a anos-luz de sua condição. E por isto, tomara para sim a inglória luta de melhorar o mundo da imundície que outros deixam e espalham por aí: são encardidos como andar de meias brancas pela casa.
Golpes para lá, golpes para cá e ele mesmo golperara-se por tanto tempo, malhando em ferro frio em tentativas de estabelecer um relacionamento - sim, ele teve um, na verdade, alguns, muitos anos atrás - para juntar calor nas noites gélidas de inverno. No verão, mistaravam-se em suor derramado pela cama, pelo chão e o gelo fino, leve e fácil, passeava por sua bocas indo de uma para outra sem pecado. 
Dedicou-se, esforçou-se, porém nada disto foi suficiente para que não se criasse de forma crível o gelo que os separou. Recorda-se do dia que se estatelou no chão gelado quebrando o nariz manchando o piso branco brandamente de sangue; o vento frio piorou  o machucado que soía queimar como fogo. Olhou para cima e viu os pés se  afastarem, os passos mais longe, quase inaudíveis. Trair é assim: quem se ama vai embora.
Amargura tomou conta dele no passado, hoje o sentimento é de frieza e certeza.
O caminho de hoje será bem longo. Muitos passarão por ele e todos, absolutamente todos serão pegos indefectivelmente. Verão como o gelo cúbico pode ser mais duro que aço (o que ele faz não denota raiva, como pode indicar... Para ele é um sentimento de justiça exacerbado porque o mundo exige assim nas entrelinhas de letrinhas miúdas do contrato que se estabelece quando se é posto para viver neste pó do universo).

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