quinta-feira, 12 de maio de 2011

040 - MUNDO, VASTO MUNDO PARA OS QUE TÊM $

No meio da manhã meio de outono em que o sol dava um canja para o tempo nublado, Duílio teve um acesso de depressão, costumeira em certas circunstâncias. Sentiu-se só e amargo como a bílis fabricada dentro dele e por vezes expelida garganta afora; tudo para esquecer tudo. 
Como dizia seu amigo Simão - que nunca sentia solidão -, o mundo é assim mesmo e está dividido entre os que têm capital (marxista!) e os que têm "tão-somente" a força de trabalho, no que Duílio intuía então que felicidade para ele quedara-se em um patamar muito superior de onde ele poderia (ou quereria) alcançar. 
"Será mesmo que esta divisão é determinante? Se for assim, então eu não tenho jeito e tenho que me acostumar à crises depresssivas em qualquer lugar que eu esteja porque $ eu não tenho... Então, fodeu?. 
Bom, o que tem sido durante estes anos de 'fantasia' e que agora eu tenho tentado me desvencilhar tem sido mais difícil ainda. Cacete! Então eu deveria ter ficado na fantasia, mesmo que seja um mundo de mentira, mas é a minha mentira e convivo bem lehor com ela do que com esta verdade apresentada a mim pelos outros convivas de planeta Terra. 
Cacete!
As pessoas são o que são mesmo, sem tirar nem pôr. E eu que me acostume com isto.
Quando que eu fui eu mesmo, do jeito qeu eu gostaria de ser? Acho que em momentos de entorpecimento, de estado de 'tudo está bem e eu sou o melhor am algo, eu sou desejado...'.
Na verdade, ali nua e crua, dura, $ ia me ajudar muito. Espantava esta realidade filha da puta e criava a minha. O $ pode tudo sim e o que ele não pode, ele ignora... Que nada, ele esmaga".
A manhã findava-se e o terceiro copo de café forte sem açúcar ingerira. Olhou para a carteira e viu alguns reais.
"Melhor mesmo é o $: martelo a solidão e compro quem eu quiser. E aos detratores que afirmam que $ não compra tudo: que se ferrem todos vocês. Já reparou que quem fala isto é sempre os endinheirados... Canalhas".
Simão ligou em seguida e notou a voz do amigo diferente. Convidou-o para sair à noite e comprar as roupas que ele - Simão - precisaria para a viagem a Lisboa a trabalho e para o percurso do Minho até o Algarves, a passeio claro. Vasto Portugal para ele.

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