domingo, 26 de julho de 2009

MACHADO, O MAIOR BRASILEIRO DAS LETRAS

JUNTOS: MACHADO, PESSOA E CAMÕES
Quando digo juntos significa que, em minha modestíssima opinião, são os três maiores escritores em língua portuguesa, a última flor do Lácio. Sim, posso estar cometendo, de forma reducionista, um grave erro ao elencar dois portugueses e um brasileiro. Existem tantos aqui na antiga Terra de Vera Cruz que merecem e estão em minha lista.
Salvaguardo que os três estarão em qualquer lista feita aqui e além-mar, por certo. Hoje, dentre os três, quero falar de Machado, o escritor mulato maior da literatura brasileira.

Discorrer sobre as obras e escritos dele pareceria lugar-comum tanto que foi falado do centenário de sua morte no ano passado. De toda forma, galera leitora, acho que posso ser redundante e citar “Memorial de Ayres”, último romance machadiano, publicado em 1908, no estertor de sua existência “perturbadora” e “perturbada”.
O embaixador, personagem que dá título ao livro, é um velho humano sem papas na língua, ou melhor, no cérebro. Machado o descreve à perfeição de muitos que conhecemos que vivem por aí. Vou transcrever um pequeno trecho para que vocês saibam – para quem nunca leu o supracitado livro – como funcionava a mente de Ayres. E atenção para a gramática do português pré-reforma de 1943: cheio de consoantes dobradas e outras diferenciações. Achei porreta a maneira como escrevíamos antes.

Vamos ao livro cuja história se passa logo após a abolição da escravatura:
"Vinte annos mais, não estarei aqui para repetir esta lembrança; outros vinte, e não haverá sobrevivente dos jornalistas nem dos diplomatas, ou raro, muito raro; ainda vinte e mais ninguém. E a terra continuará a gyrar em volta do sol com a mesma fidelidade ás leis que os regem, e a batalha de Tuyuty, como a das Termopylas, como a de Iena, bradará do fundo do abysmo aquella palavra da prece de Renan: 'Ó abysmo! Tu és o deus unico'" (atenção que a crase assinalava-se com acento agudo e não com o grave como é hoje).
Entendo que o tempo apaga tudo e que isto nos iguala a todos os outros 7 bilhões de habitantes: ninguém ganha do tempo. Talvez os escritos de Machado possam lutar...
Creio que “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (do cacete de bom!), “Dom Casmurro”, para citar dois, estão entre os mais lidos e populares do escritor mulato. Fica a sugestão de leitura do “Memorial de Ayres” que é uma ode aveludada de como funciona a mente humana, o cérebro de um diplomata aposentado que, no decorrer da vida observa as mentes de seus 'convivas' e analisa a própria com uma propriedade sarcástica por vezes, perceber-se-á que o velho embaixador tem muito mais em comum com qualquer um de nós do jamais haveríamos de supor.
É um deleite que adoça a vida.
(deveria escrever mais sobre ele – quem me dera ser um machadiano puro...)

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