quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

VIAGEM CIX - FAZ A CONTA: PUNIÇÃO NÃO É VINGANÇA

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Ainda febril com a câmera, ainda em fevereiro antes das águas de março que fecham o verão, ainda na garagem iluminada. Tudo pela noite adentro, já alta madrugada. Um cinzeiro incrivelmente limpo para um fumante inveterado, papéis de chocolate amassados de vários tipos e o motor ainda quente do do semi-novo sedã de velho compunham cenicamente seu mais novo depoimento. Vestindo um velho shorts azul-celeste, regata branca de "avô" e chinelos-de-dedo, despenteado no cocoruto, que apresentava entradas proeminentes mesmo assim, e lá estava ele para depor, gastar o latim - que por sinal era versado no idioma "morto" -, gesticular menos desta vez e apenas, e tão-somente, falar olhando para a lente. Sem recuos, nem passeios peripatéticos e afins. 

"Por que? Bem, é simples e estão sendo repetitivos na pergunta. Eu gosto de fazer o que eu gosto. Aliás, é o que eu mais gosto. Não... Espera. Falto com a verdade. Gosto igual de chocolate, de fumar e de ganhar meu $. Esta limpa que eu faço para tentar fazer desta cidade de São Paulo um lugar melhor entra na lista das melhores coisas, me dá ganas. Assim, como um passe de mágica. Raiva? Não tenho raiva, não viaja. Creio mesmo que haja a necessidade de punir e, olha, quer saber mais? Até estou dando uma chance àqueles que creem am algo mais espirtitual de sanarem suas dívidas com o deus deles, de cada um... Não, este papel cabe ao suposto deus de cada um, eu não perdoo ninguém, eu não tenho que perdoar ninguém. Vou lá, escolho e faço e acabo com quem escolhi. Pode ser um bom passaporte para uma vida eterna, se é que ela existe mesmo. Eu? Não acho que isto seja relevante: o que eu penso a respeito da morte e de uma suposta vida depois da morte, mesmo porque nem me preocupo com isto tudo. 

Porque a mim, repito, enfatizo e reitero, cabe a parte de fazer uma limpa na Terra, sem revisionismo e principalmente, sem vingança... O que? Se é vingança? Claro que não! É bem diferente vingança de punição. Normalmente, vingança é quando fazem algo para você de injusto - ou o que você considera injusto, às vezes não é, e daí, você quer revidar, arquiteta planos maquiavélicos etc; ou ainda vingança é quando também fazem algo a quem você gosta muito. Aí, o revide é também amargado em prato frio, como diz aquele ditado italiano. Eu não! Quem escolho não fez nada para mim, em 99,99% dos casos, por isto reafirmo que é punição e não vingança. Como? Ora, 0,01% é praticamente desprezível estatisticamente. Nem me recordo dele! Rsrsrs. Pensar sobre... Bem, tiveram o engenheiro renomado e o encanador... Ah, e também aquela médica. Só! Como assim? É desprezível sim, só efetuar uma conta na cabeça sem ajuda de calculadora: faz uns 20 anos que faço o que faço, quase todo dia. Em alguns destes dias, trabalhei mais de uma vez e você vem falar que é vingança? Realiza a conta, usa os números e você perceberá que não existe o tal valor. Por favor né? Situe-se!"

Ficou pelo lugar um bom tempo arrumando uma coisa aqui, outra ali, cigarro nas mãos e cantarolando com o rádio ligado em uma estação que tocava só rock nacional dos 80 e 90, seu tipo preferido. Poderia ficar por horas e horas... O que aconteceu. Antes de apagar as luzes frias que bem iluminavam toda a garagem, certificou-se que a câmera fora desligada, tudo apagado pelo cinzeiro e calçou os chinelos. Então, a garagem como testemunha solitária, escureceu-se e emudeceu. 

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domingo, 24 de fevereiro de 2013

VIAGEM CVIII - O EFICAZ FIO DE NÁILON

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Formava-se uma pilha de DVDs gravados desde a compra da câmera no supermercado da avenida Paulista dominado por coreanos e chineses que mal falam o português. Sobre uma das prateleiras da velha garagem nem tanto empoeirada, devidamente guardados, as tais gravações mostravam muito do que ele pensava a respeito do mundo, dos outros homo sapiens sapiens e do relacionamento destes com eles. 

Vigiava sua memória para não esquecer de nada, de nenhum detalhes se decidisse contar algumas das peripécias elaborados quase a esmo por ele pela bandeirante região metropolitana. 
Como realizava o trabalho de forma rápida na maioria dos casos, ele agora logo que chegava da rua depois do "extenuante" dia de tarefas, corria para frente da câmera e descrevia - em detalhes quase vis - as vilezas dos escolhidos. "Vilania por vilania, fica tudo igual entre as partes. Empate".

Perdeu-se um pouco a lembrança de tudo desde o início há mais de 20 e tantos anos (para sermos exatos, 23 anos). Recuperar ficava impossível porque anotações sobre suas saídas por São Paulo eram inexistentes, até o advento da febre pelas gravações. 
Rapidez indolor na maioria dos casos; quanto à minoria dos casos, todo o processo da dor durava pouco mais, apenas o suficiente para uma breve explicação dada por ele para que quem estivesse em suas certeiras e infalíveis mãos soubesse o porquê de acontecer o que acontecia. Para estes, os piores da lista elencada em sua memória, julgava até mesmo que trazia uma certa redenção afinal: como demorava-se mais um pouco com os piores entre os piores, estes podiam até tentar um arrependimento frente ao suposto deus no qual criam. "Se é que criam em alguma coisa...", pensava. 

Quantos às armas, antes sua mãos pesadas e grandes executavam o serviço: quebraram muitos pescoços, dedos tenazes em volta da garganta, enfiados pela boca até o sufocamento. De uns tempos para cá, ainda que a garganta fosse a parte mais escolhida do corpo e mais fácil de dominar, ele vinha variando sobre qual parte agir. Também de uns tempos para cá, além de amoladas facas, começara a usar menos suas mãos em contactos com os podres moribundos e mais artefatos feitos de ferramentas construídas para outros fins: picareta, martelo, tesoura de jardim, formão, alicate, fio de náilon, injeção de veneno etc... Sim, divertia-se em escolhar qual destes escolher para levar em seu seminovo sedã de velho impregnado pelo chocolate; sua escolha por quem sempre fora aleatória praticamente - não havia critérios sobre as pessoas -, mas sobre qual arma usar. 

Com as tesouras grandes de jardim ele obteve sucesso até então inigualável no uso de artefatos feitos de metal. Que bem afiadas, conseguia cortar e separar a cabeça do resto do corpo do infeliz canalha escolhido. Recorda-se bem, entretanto, do formão que estacou garganta abaixo, passando pela nuca - só deu tempo de ouvir o último engasgo de ar do imbecil. 

O mais demorado para se usar dentre os citados já citados, o fio de náilon, dava mais trabalho porque além de usar na garganta para cortar, ele usava também nos bagos de alguns homens que "merecedores" tornaram-se, principalmente àqueles que exerciam todo o poder do falo para imprimir derrota, aflição e humilhação. Verdade que usava pouco deste método por ser mais complexo de realizar, além do que quanto menos tocasse no alvo, melhor; nem todos morriam imediatamente e sangravam feito porco furado no jugular - para terminar, aí sim, usava da capacidade de quebrar as vértebras. Porém usava mesmo assim quase que totalmente com os homens. 

Um em particular usado quase que somente com as mulheres era o grande alicate de pressão imposto às línguas delas até serem arrancadas para fora: aqui também se fazia necessário o golpe final, igual ao dado aos homens. 
Os métodos, como já explicado, podiam ser alterados - e eram - para homens e mulheres, podiam ser alternados ou mesmo repetidos para ambos. Não havia grande diferença sobre quais alvos ele deveria usar X ou Y arma: usara o fio com mulheres assim como o formão com os homens.

"Porque não uso arma de fogo? Ah, que pergunta mais despropositada! Claro que uso, mas quase nunca. O que? Ah, por que? Bem, primeiro que faz barulho. Sim, eu poderia usar um silenciador e é o que faço quando eu uso meu velho .38 - faz um rombo no corpo dos infelizes. Rsrsrsrs. Segundo, porque meu porte de arma está vencido e, portanto, saio cada vez menos com o revólver. Gosto mais do silêncio das bocas que tentam dar a última cartada comigo, por isto é mais comum e mais tesão usar as ditas armas brancas: eficazes e silenciosas. 

Sim, claro! São mais interessantes porque aqueles segundos que faltam para a morte, eles tentam balbuciar algo ininteligível. É, gosto desta palavra: ininteligível, porque combina bem com eles: suas ações também são incompreendidas por mim.Ah, tem também o fio de náilon. Este é ótimo: desperta nenhuma suspeita e atinge o alvo para judiar um tiquinho a mais. 

Não entendi, pode repetir? Ah, ok! não tinha escutado direito. Sofrimento não é bom para ninguém, quem decide isto, o sofrimento maior não sou eu, aliás, nem sei quem decide... Se é que alguém decide... Eu uso o náilon, mesmo que não seja instantânea a morte, pelos segundos de demora a mais que ele causa. E outra, muitos desfalecem e eu nem preciso quebrar nada do infeliz... Por isto. Eu gosto do fio de náilon: fino, corta feito lâmina, invisível e por aí vai".

Terminara mais um depoimento, só para variar a alta hora da madrugada, escutando os gatos da vizinhança namorando. Quedava-se cansado com as pálpebras pesadas como halteres implorando pelo descanso merecido. Aos finais de semana, ele se permitia dormir mais tarde e acordar na hora que fosse. E aos domingos à tarde, um período de modorra, voltava à cama e tirava um soneca reparadora para enfrentar a noite que vinha em seguida (se precisasse compensar um período), esta sim o oposto de qualquer "estabilidade sonífera", digamos assim.

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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

67 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - TUDO RETALHADO

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"Tudo retalhado, recortado, picado como fazem as crianças em alguma aula do jardim da infância. Tudo em muitos pedaços que tornar-se-ia impossível juntar e montar como um quebra-cabeças que se pendura em paredes vazias. Armaduras, utensílios domésticos, armas, manuscritos, roupas, ramos de árvores. Até os cogumelos crescidos pelo chão de matéria morta. Tudo retalhado sem pudor algum. Ele tenta entender qual a razão. Vê logo na frente, estátuas perfeitas de homens também retalhadas, em pedacinhos de mármore branco: dedos, braços, orelhas, joelhos... Tudo pelo chão espalhado em uma pequena área próxima ao seu castelo invencível. Onde estão seus protetores e adoradores, aqueles que o seguem sem discutir?

Pelo vento que vinha do sul, arrepiam-se os pelos de todo o corpo quase desnudo. Neste caminho que nunca passara, nem sabia porque teve que passar por ali hoje, um dia de sol estrilante - coisa rara por estes arrebaldes do extremo do império - que a tudo incandescia e emprestava um pouco de calor.
Em volta, tudo retalhado. Caminhou para chegar em outro local, para achar de volta sozinho o caminho de volta - onde estão seus dois soldados imediatos? - e acabou deparando-se com a tal cena que nunca vira. Quem fez tal façanha teve tempo e o fez com precisão que deveria ser invejada por qualquer um que quisesse aniquilar um inimigo. Está tudo assim: um bom serviço, perfeito, sem que haja algum vivente que possa discordar.  Sim, aqui não se trata de beleza, tampouco de estética. Trata-se de impressionar-se para observar e aprender. 

Mesmo com o sol, o vento insiste em vir gelado e forte, apagando de quando em vez o calor do sol, o que faz que ele saia do estado letárgico e decida caminhar, sair dali sem olhar para trás. A imagem permance na mente com ele caminhando de volta à sua fortaleza. 
Pelos retalhos vistos, ele subjuga todo o resto de seus pensamentos. Apenas a vida toda picotada dele e de seus auxiliares soldados protetores tem lugar em seu raciocínio. Sabe pouco da sua vida e da vida deles... Quase nada. Apenas as histórias que contam que envolvem alegrias poucas, tristezas mais que poucas e desavenças usuais. 

'Pelo menos eu posso ser um muro de lamentações para ambos. Acho que alivia quando eles me têm como um bom interlocutor que sabe ouvir até o fim, fazer perguntas pertinentes, além de dar conforto com um conselho que, creio, ajuda-os. Sei mais de um que do outro. O mais baixo recruta também é o mais falante, o mais novo e o mais precisado que se faça entender e ouvir. Ele anda muito introspectivo. O outro, de patente logo acima, é quieto e tem uma precisão absoluta quando deseja algo, sem meias palavras. Ainda é pouco, devo dar mais atenção a eles. Tão diferentes e tão iguais em me proteger e me venerar. E eu? Sei lidar, respeitar toda esta veneração sem me tornar um imbecil semi-deus'.

Por um caminho mais longo em um meandro dele, depois de longa caminhada, o castelo é visto. A sensação de alívio se traduz em felicidade e correria para chegar mais rápido, mesmo estando ofegante e com os pés machucados pelos retalhos. Mais ainda quando vê seus sentinelas à porta do castelo gritarem por ele a mesma frase
--- Onde estava?
O mais jovem diz com a voz alterada.
--- Procuramos por todo castelo, do calabouço mais profundo à mais alta torre. Mergulhamos no fosso para ver se tinha caído e vimos as imensas ratazanas nadando e comendo restos. Preciso de sua atenção. Aconteceu uma coisa horrível comigo e minha família... Com minha mulher, não sei o que fazer! Onde estava? Parece que minha vida está toda retalhada em mil pedaços pelo chão.
E o abraça efusivamente como se fora a última vez que o visse. O outro, observando e mais contido, põe a mão no ombro de seu superior hierárquico e se satisfaz. Para ele, apenas o toque e tê-lo nos olhos já são motivos de tranquilidade.

http://sdoeden.areavoices.com/2011/08/

domingo, 17 de fevereiro de 2013

66 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - MENSAGEM DOBRADA

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Televisão ligada desde ontem à noite, volume baixo; e quando acorda passa pela sala e se atém um pouco ao noticiário de hora em hora que, por sorte, passa agora. Escândalos de corrupção, terremotos, ditadores travestidos de democratas, caras-de-pau aos montes, desemprego, chacinas, fome e mais uma porrada de coisas que o ser humano sabe fazer bem como só ele mesmo é e faz. As tragédias humanas, aquelas interiores e intransferíveis, para ele, são as mais difíceis de se lidar; não há ajuda governamental, nem de ONGs, nem de voluntários obstinados, nem de empresas "filantrópicas, nem nada/ninguém... Só mesmo cada um para saber como lidar e etc. Nem que peça um pouco mais de serenidade, tudo isto produzido pelos homens não cessa um instante.

Luz pela casa toda com as janelas e a porta da sacada escancaradas. Um ar úmido domina o seu ambiente o que o faz mais ansioso por uma xícara grande de café para bem começar o fim de semana.
Passeando pelo apartamento com o Felino e o Rex atrás, atrás sem parar, com uma música eletrônica suave ecoando pelo castelo invencível, o telefone toca três vezes até que ele escute. Há também duas mensagens não lidas, de diferentes números - que ele identifica de imediato: de Maximiano e de Licínio, bem diferentes.

Na mensagem do metálico traído amigo: 
"Oi, td bem? q vai fz no dom, patrão? rsrs vamos sair? abç. ah, valeu a conversa ontem. to mais tranq". 
A segunda, do veterinário, mais longa e mais inusitada:
"Bom dia. Tudo bem c/ vc? Desculpe por ontem, nem deu tempo de flar muito. Queria dar 1 abç em vc, mas foi um corre só por aq. O q vai fazer + tarde? to mudando a clín de end. perto da sua casa. vou lá depois das 15h, a fim de conhecer? assim vc pode dar uma opinião sobre e afinal... vc é um cliente ;-)

Supreendido com as palavras do veterniário, ele manda uma msg de volta perguntando onde será exatamente a nova clínica. Logo em seguida, chega outra:
"Perto do metrô Vl Mariana, atrás do posto q tem na esq da vergueiro. Vamos? Assim posso pagar um café pelo dia de ontem. Abç".

Divaga pela casa ampla com um pedaço de pão na mão procurando onde deixara a xícara com o café recém passado; divagação esta que não chega a conclusão alguma. Aliás, quanto mais pensa, mais acha estranho este convite, a pretexto do aniversário, para conhecer a nova clínica dele. A resposta que veio rápida, a falta de outros interesses em comum, ele é só um cliente, o sábado à tarde... Motivos que ele realmente fica sem entender e que pelo visto só pagando para entender quais são.

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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

VIAGEM CVII - PELA TELEVISÃO, UM TELETRANSPORTE

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Tolda-se o céu com a noite que vinha teleguiada
pela tela daquela televisão.
Faria, se pudesse, um teletransporte para a teledramaturgia
que pelo telescópio de seus olhos castanhos - os esquecidos - via todo dia, 
sem tolice alguma, sem hesitações.
Teleguiava-se pelos seus sentimentos, pelas suas dores como a telalgia que
um dia quiseram impingir. Refletiu-se no mamilo pontudo e pelo corpo.
A cor amarela, a cor laranja do dia haviam ido embora e pela  tevê

via no intervalo o talassêmico canalha, gritar, prometer que se ganhar... 
E turvar-se diante do montante de dinheiro que sempre vem.
Toda sua cor agora parecia ser a contida nos cifrões.

Talassocrata como Netuno, dominante como Zeus, fez o que todo homem
faz quando solitário, deitado, quase nu:
De uma talagada só, derramou o copo goela abaixo o bourbon de milho 
porque o fazia, telepaticamente, estar junto de quem gostava e de quem
nutria o único sentimento viável - ele amava. Tolheu-se apenas no 3° copo:

"Tolice tolher-me!", pensou em voz alta.
Para que tolerância com o dia já toldado de breu, 
quedava-se melhor se amortecido estivesse. 
Em meio aos milhões encarapitados, por meio de seu telescópio,
via, ainda com certa nitidez, alguns dos apartamentos mais altos,
com luzes esmaecidas ou brilhantes acesas.
"Que fazem por ali? Quem faz?"
Queria saber...

Teletranportar-se-ia a um único lugar que nunca pode - que tolo - ocupar
pacificamente: o coração. 
Sabia com clareza refletida de uma tulipa à luz do verão de Amsterdã
que amaria, que protegeria, que acalentaria e que seria
protegido, amado e
acalentado:
O que toda novela de qualquer teledramaturgo mostra. No final, mas mostra.

http://www.humansinvent.com/?_escaped_fragment_=/2244/how-teleportation-can-fight-cancer-and-phone-hacking/

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

VIAGEM CVI - GRAVANDO A FANTASIA

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Ouvia-se pela cidade de São Paulo, o grande centro do trabalho de tudo no país tropical abençoado sabe-se lá por quem, os barulhos da festa de carnaval - o maior espetáculo ao vivo da terra -  se fora mesmo influência dos portugueses do lado de lá do Atlântico. Quando se falava vivo ela já acendia a luz dos olhos para concorrer com o brilho das fantasias dos destaques ensoberbecvidos, dos passistas hedonistas sem roupas e dos dirigentes bicheiros das ditas associações "culturais". Vivo era ele, o que ele fazia, culto traduzir-se-ia não em jogos de bicho, extorsão e brigas pelos pontos dados do júri previamente escolhido - sabe-se lá como, por quem e porque...

O samba-enredo lido no papel parecia o único fator desta parafernália de carnaval de país ufanista a sobrar: havia um pouco de história, de geografia, de folclore, de tradições e de inovações. Sobrava a música no papel, porque ao ser cantada/entoada/gritada pelos integrantes que gastam $ o ano todo para desfilar por 50 minutos perdia-se toda e qualquer vislumbre de cultura.

"Eu duvido que os integrantes, do passista, passando aos destaques, ao escalão mais alto da 'agremiação cultural e recreativa' saibam o real significado dos signos e significantes cantados por eles. Deve ser tudo decorado na ponta da língua para  não fazerem feio na avenida, ops, no sambódromo. Eles pouco sabem a diferença entra X e Y, além de serem histéricos por utopias que diram menos de 1h. 'Para quê?' Eu me pergunto se tudo isto vale mesmo todo o esforço 'cultural' daquelas pessoas quase nuas, daqueles dirigentes bonzinhos como mafiosos chineses e de todo o $ gasto em uma imbeliclidade que nos faz que sejamos conhecidos lá vfora como o país do carnaval'. E com este conhecimento vem o turismo sexual, bunda de fora, pouca roupa, o país da alegria escancarada, o país que sabe fazer festa como nenhum outro... Que triste para este chão cheio de contradições sociais!".

O reinado da folia estender-se-ia por 4 dias apenas em terras de Piratininga, trazendo alívio para ele. Imaginar-se em outras cidades de praia onde o carnaval é levado a sério em outras cidades de praia por uns 30 dias ao mesmo, fora aqueles fora de época.
Gravando mais um de seus depoimentos em frente à câmera, ainda nova em folha, em uma madrugada de frio para um verão chuvos, ele discorreu sobre os efeitos dos dias de putaria quase generalizada no Brasil, onde tudo se faz vista grossa e acham que por ser carnaval... "Então pode tudo". 

"Hã? Como assim? Levado a sério por quem? Por gente que não trabalha e se diverte às custas de outros imbecis que se permitem ser montados por este monte de escória humana festeira? A coisa boa é que rondar ali por perto do Anhembi é proveitoso de um tanto que não fazem ideia! Porque? É fácil escolher de pronto e mais fácil ainda executar o serviço. Ano passado, posso dizer que me esbaldei com o diretor de uma escola! foi muito gratificante ver a cara dele em cima daquele monte de folhinha de jogo do bicho. Amarrei-o como se faz a um cachorro e fui apertando na garganta. Pedi para que latisse igual a um. Teve também uma destaque! Rsrsrs! Ri muito quando eu a fiz engasgar com a penas sintéticas de avestruz goela abaixo, que se não me engano, eram as únicas peças que a turbinada trajava. Comeu 'de livre vontade' todas da fantasia, até lhe faltar o ar Rsrsrs. E o passista todo requebrado nas pernas, orgulhoso de suas raízes de sambista. Raízes:? Onde mesmo? É piada né? Foi bem fácil pegá-lo pela vaidade ao me apresentar falando com o sotaque de português de Portugal, meu crachá de uma Televisão Internacional Portuguesa... Foi mais fácil ainda bater nos dois joelhos dele com meu taco e vê-lo agozinar de dor até desmaiar. Quebrei-o em seguida. E assim foi naquele ano, com mais quatro ainda na lista.Como? Evidente que sim! O mundo ficou bem melhor sem eles, ora!".

Na "sexta gorda de carnaval" como muitos imbecis brasileiros gostam de afirmar e apregoar, ele, um magrão de virar tripa, foi descansar logo após o depoimento na garagem. O velho sobrado do velho bairro da Vila Mariana quedou-se quieto e escuro; todas as janelas fechadas, apenas a do quarto de cima voltada para trás ficou aberta durante uns minutos para ventilar. Podia-se ver a fumaça de cigarro sair por ali, quem atento estivesse. e foi só. O sábado e principalmente o domingo logo viriam e demandaria intenso trabalho e afinco. 
Ele fora dormir já cansado e descansar para realizar melhor a cada dia sua tarefa, que de fantasiosa não tinha nada. Tudo muito real, como um desfile que perdura tão pouco.

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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

65 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - TRAIÇÃO DETALHADA

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Estendido de costas pelo chão do carpete, no melhor lugar que há para dormir fora da cama, ali perto da sacada, alta hora da madrugada - as horas mortas -, ele pensa sobre o que Maximiano lhe falou contando de maneira entusiasmada poucas vezes vista por ele; o conselheiro-mor e o príncipe dormem ao lado ressonando com a tranquilidade infantil tão característica de ambos. Vestindo as meias, cueca e camiseta de dormir, e resistentes baforadas no cigarro.

O brilho nos olhos e as mãos em desalinho pelo ar, braços que se moviam, um irrequieto quadril sobre a cadeira, e seu amigo metálico lhe disse que a esposa grávida está de dois meses e que eles irão se separar. Com detalhes que beiram um esquadrinhamento por varredura como agências de inteligência faziam - e fazem - ele rememora cada minuto da inusitada conversa entremeada por chopes, conhaques e uma comida aqui, outra ali.

--- Já voltei para casa do meu irmão, quase de mala e cuia. Também, depois do que aconteceu, nem dava mais para morar junto. Falta passar lá e carregar o resto das minhas coisas. Tenho muito o que pegar lá e já arrumei um amigo que tem uma picape. Sábado tiro tudo. Sabe, estou tão aliviado, posso dizer que estou contente!
--- Entendo. E ela, como está?
--- Não sei responder isto, não sei mesmo. Mas não me preocupo se está bem ou não. E mais, nem quero saber. Tenho que me preocupar comigo agora e isto está tomando conta de tudo o que estou fazendo. Ela nem merece minha preocupação, nem que eu a procure para tentarmos reatar.

 --- Ia perguntar isto, tirou da minha boca. Você não pensa que pode ser mais uma crise passageira, alguma coisa assim? Calma! Deixa terminar. Você dizia que ela te amava, que fazia de tudo por você e que na cama se davam super bem. 
--- É bem isto: eu me dava bem com ela, mas ela não se dava comigo. Você imagina o que aconteceu? Olha, primeiro, eu estou muito contente que vou ser pai! Isto me enche de alegria e satisfação, mas... 
--- O que foi?
--- Simples: ela, ele o vizinho da frente, na cama, trepando!
--- Ah! Sério? Nossa!
--- Maior putaria, sem camisinha, de quatro, no anal!
Pela descrição cheia de detalhes, ele ficou desconcertado. Maximiano logo percebeu.
--- Exato, é esta cara mesmo que você tem que fazer! Eu ainda fiquei ouvindo antes de fazer uma entrada triunfal no quarto. Você não sabe: eu gravei com o telefone! Gravei! Faz uns 20 dias. Meu, eu entrei como se nada estivesse acontecendo, peguei meu relógio - este aqui, ó - olhei para ela e disse: "Assim, sem encapar o danado? Quer me passar aids é? Safada sem-vergonha!". 
--- O quê? Duvido! 

--- Calma, não acabei. Eles pararam, eu saí do quarto e da cozinha pude ouvir ambos tentando se vestir rapidão meu. Falando coisas, o que não sei. Até aí, estive calmo. Quando ouvi a palavra chifrudo, derrubei todo o café na camisa e engasgado fui para cima deles, dos dois! Ele saiu correndo, mas antes consegui dar um murro nas costas dele, foi só. Mas percebi que ele deu travada na respiração.
--- Cara, nem sei o que falar! Estou perplexo.
--- Depois, fui falar com a biscate. Discutimos e tal. Falei um monte! Um monte! Até de sexo anal, que ela se recusava a fazer comigo porque dizia que, como é evangélica, Deus e o pastor proíbem. Evangélica? Sei. Sei muito bem! Ela esqueceu de dizer que Deus é contrário à traição. Saí da casa naquele dia mesmo. Incrível que eu estou aliviado, sei lá... Feliz porque vou ser pai. Claro, vou fazer o DNA mas tenho para mim que o filho é meu.
--- Poxa, que bom então.
--- Mas nos dias seguintes cara... Tive vontade de morrer, de me matar, de sei lá. Quis comprar uma corda e me enfocar, tá ligado? Que tristeza do inferno cara. Mas passou, uns dias depois. Ainda bem.
--- Cacete! Ainda bem mesmo que não fez!


Ainda deitado perto da sacada, pôs-se a pensar em tudo isto que lhe fora contado. Adormeceu, usualmente inclusive, por ali mesmo. Acordou no meio da noite, também usual, e dirigiu-se ao quarto com o Felino nas mãos e o Rex cambaleante atrás o seguindo. Murmura sua perplexidade já na cama antes de cessar a vigília. "Nossa, coitado dele! O que eu faria nesta situação?"

http://www.mccamley.org/blog/tag/jew%20of%20malta

sábado, 2 de fevereiro de 2013

64 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - COMEMORAÇÃO

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E o dia chega. Sexta-feira, em fevereiro, o mês mais curto que derrete, antes do carnaval, completa 46 anos.
Abrindo os olhos vendo o teto e um pedaço do travesseiro em cima de sua cara, 'surge' na hora o aniversário para se lembrar. Ocorre há décadas. Ainda em silêncio pelo castelo invencível, usualmente antes da hora de levantar, ele espreguiça e permanece na cama; o dia começa a entrar pela janela fechada vencendo a escuridão das horas da madrugada. Dá para ouvur o barulho da chuva na sacada que vem lá da sala (não há porta fechada dentro do castelo, basta a da frente e a da cozinha - "dois buracos ao mundo").

"Sempre acho que nasci na época errada, desde quando eu estava no ginásio; faz tempaço. E quando este dia diferente chega, este pensamento é mais concreto. Tenho até mesmo o desejo de ter vivido numa outra época. Hum... Em duas épocas, mas sem esta de ter vivido outras vidas passadas. Apenas queria ter vivido àquele tempo. Podem ser separadas por alguns séculos, aí eu posso escolher".

Fecha os olhos alguns minutos montando uma HQ para confortar-se sobre viver em outra data sobrevivendo nesta de hoje - do seu aniversário: no século II, quando Roma dominava tudo de mais importante no Ocidente sob Trajano ou sob Antonino, ou ainda lá pelo ano entre 1100 e 1200, na Escócia. Dez minutos depois pula da cama com uma câimbra na perna esquerda acordando o conselheiro-mor e o príncipe herdeiro; a caminhada matinal rotineira pelo apartamento tem sua vez. Com tempo, ele prepara o café, alimenta seus companheiros e decide sair com o Rex antes de ir trabalhar. Uma caminhada fazendo o quadrado (que é um trapézio regular, na verdade) pela quarteirão para que ele possa aliviar-se e aguentar até mais tarde, logo à noite. Resolveu o problema canino fisiológico.
Barba feita, desodorante sem cheiro. Tudo pronto e tudo passado e impecável em sua roupa, com ternos - claramente - escuros de todo dia, sapatos pretos com cadarço e solado de couro, "como precisa ser", segundo ele. Carinhos em ambos, um último gole de água gelada em cima da boca amarga de café quente, porta trancada nas fechaduras, elevador e o bom dia ao zelador. A rua: agora, ele terá que se haver com o mundo neste dia de aniversário insuportavelmente inadiável desde uns 10 anos para cá.

Pela hora do almoço seu estômago ronca bem alto adiantando que não esperará por muito tempo toda aquele trabalho infindável. ele então para tudo e mais cedo que o usual, sai para comer. O telefone toca, Maximiano do outro lado.
--- Parabéns! É hoje seu dia né?
--- É sim! Obrigado pela lembrança.
--- Anotei uma vez que a foi à padaria no meu telefone. Faz tempo! E como você está? O que vai fazer logo mais? Comemorar em grande estilo? 
--- Que nada. Saindo daqui do trampo, vou para casa. Cansadão para cacete.
--- Vai nada - e ri sabendo que o convencerá. Vou passar aí lá pelas 19h. Convidando para um chopp, uma cerveja. Tem jeito...? Por que não aceito não como resposta.
--- Liga um pouco antes então porque não sei que horas o trabalho vai terminar hoje, ok? Tenho uma reunião no fim da tarde.
--- Para de inventar! E ri mais uma vez. Eu te ligo, mas vou ligar daí debaixo do prédio imponente onde você ganha seu pão! Eu tenho uma novidade para falar. 
--- Ok, se eu atrasar muito, aviso você.

No meio da tarde, concentrado não mais na reunião, até porque ele fora desmarcada pelo chefe supremo do último andar, ele tem pouca certeza se quer mesmo estender a noite no dia do seu aniversário, como se parecesse uma comemoração, uma celebração.

"Posso ligar e dizer que a reunião está longa com um clima tenso e que precisamos resolver todo o problema ainda hoje. Que mentira! Acho bem pouco provável eu fazer isto, não gosto de mentir. Aprendi com o passado de mentiras que me contavam e que, por instinto de sobrevivência torto, entrei no jogo desta roda. Também tem que ele vai vir aqui e pode não acreditar em um sequer fonema que eu lhe fale... Mas me agrada por um lado ir e tomar algo, já por outro sei que vou sentir saudade do meu castelo invencível, inexpugnável, intransponível e secular. Espera! Na verdade, é bem estranho este Maximiano querer me ver hoje, sendo que temos nos encontrado direto. Porque? Ele parece bem no trabalho, então dinheiro não vai me pedir. Recém-casado, portanto não deve ter tantos problemas 'irresolvíveis' pendentes. Pelo que eu sei e o que consta, porque ele mesmo faz questão de falar sempre, é que o casal se ama. Qual será a novidade que ele vai me apresentar? Bem, já que estou livre e são quase 18h, vou terminar de passar a agenda da semana que vem com o secretário falante, fechar tudo e zerar o expediente".

Às 18h55, o metálico Maximiano liga avisando que está no saguão da recepção esperando-o para irem comemorar o dia dele. Descendo pelos elevadores, Ápio Licínio liga cumprimentando-o também, causando ainda mais estupor e sensação de surpresa. 

"Nossa! O veterinário do Rex e do Felino me ligar? Que coisa mais inusitada!  Nunca podia imaginar isto. Nem me lembro de ter passado a data de aniversário para ele... Hum... Lembrei, foi na própria clínica quando fizemos toda a papelada dos bichos e com dados pessoais meus.Foi quando levei o Rex para o retorno. A recepcionista me disse que é uma gentileza e 'nem precisa falar o ano, só dia e mês', sorrindo. Para quem não gosta de surpresas, nada fora da ordem, o dia está bem cheio".

No saguão ainda lotado de gente indo embora, seguranças com ternos que parecem de ontem, secretárias falando ao telefone e faxineiras iniciando o turno da noite, Maximiano o recebe com um sorriso expressivo e lhe dá um grande abraço apertado com palavras de "muita paz e saúde, porque você merece, você é um cara muito gente boa".

--- Fala aí! Qual é a novidade?
--- Ah, você nem imagina. Vamos lá na padaria e eu te conto. Hoje a despesa é por minha conta. Sem choro e sem vela, doutor das letras! Quero só ver sua cara quando eu contar!

O amigo põe a mão em seu ombro desavisadamente e caminham juntos naquela quase noite de horário de verão com céu prenunciando chuva. Deve ser uma daquelas que inundam a cidade de São Paulo.

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