domingo, 24 de fevereiro de 2013

VIAGEM CVIII - O EFICAZ FIO DE NÁILON

Reprodução [sítio abaixo]
Formava-se uma pilha de DVDs gravados desde a compra da câmera no supermercado da avenida Paulista dominado por coreanos e chineses que mal falam o português. Sobre uma das prateleiras da velha garagem nem tanto empoeirada, devidamente guardados, as tais gravações mostravam muito do que ele pensava a respeito do mundo, dos outros homo sapiens sapiens e do relacionamento destes com eles. 

Vigiava sua memória para não esquecer de nada, de nenhum detalhes se decidisse contar algumas das peripécias elaborados quase a esmo por ele pela bandeirante região metropolitana. 
Como realizava o trabalho de forma rápida na maioria dos casos, ele agora logo que chegava da rua depois do "extenuante" dia de tarefas, corria para frente da câmera e descrevia - em detalhes quase vis - as vilezas dos escolhidos. "Vilania por vilania, fica tudo igual entre as partes. Empate".

Perdeu-se um pouco a lembrança de tudo desde o início há mais de 20 e tantos anos (para sermos exatos, 23 anos). Recuperar ficava impossível porque anotações sobre suas saídas por São Paulo eram inexistentes, até o advento da febre pelas gravações. 
Rapidez indolor na maioria dos casos; quanto à minoria dos casos, todo o processo da dor durava pouco mais, apenas o suficiente para uma breve explicação dada por ele para que quem estivesse em suas certeiras e infalíveis mãos soubesse o porquê de acontecer o que acontecia. Para estes, os piores da lista elencada em sua memória, julgava até mesmo que trazia uma certa redenção afinal: como demorava-se mais um pouco com os piores entre os piores, estes podiam até tentar um arrependimento frente ao suposto deus no qual criam. "Se é que criam em alguma coisa...", pensava. 

Quantos às armas, antes sua mãos pesadas e grandes executavam o serviço: quebraram muitos pescoços, dedos tenazes em volta da garganta, enfiados pela boca até o sufocamento. De uns tempos para cá, ainda que a garganta fosse a parte mais escolhida do corpo e mais fácil de dominar, ele vinha variando sobre qual parte agir. Também de uns tempos para cá, além de amoladas facas, começara a usar menos suas mãos em contactos com os podres moribundos e mais artefatos feitos de ferramentas construídas para outros fins: picareta, martelo, tesoura de jardim, formão, alicate, fio de náilon, injeção de veneno etc... Sim, divertia-se em escolhar qual destes escolher para levar em seu seminovo sedã de velho impregnado pelo chocolate; sua escolha por quem sempre fora aleatória praticamente - não havia critérios sobre as pessoas -, mas sobre qual arma usar. 

Com as tesouras grandes de jardim ele obteve sucesso até então inigualável no uso de artefatos feitos de metal. Que bem afiadas, conseguia cortar e separar a cabeça do resto do corpo do infeliz canalha escolhido. Recorda-se bem, entretanto, do formão que estacou garganta abaixo, passando pela nuca - só deu tempo de ouvir o último engasgo de ar do imbecil. 

O mais demorado para se usar dentre os citados já citados, o fio de náilon, dava mais trabalho porque além de usar na garganta para cortar, ele usava também nos bagos de alguns homens que "merecedores" tornaram-se, principalmente àqueles que exerciam todo o poder do falo para imprimir derrota, aflição e humilhação. Verdade que usava pouco deste método por ser mais complexo de realizar, além do que quanto menos tocasse no alvo, melhor; nem todos morriam imediatamente e sangravam feito porco furado no jugular - para terminar, aí sim, usava da capacidade de quebrar as vértebras. Porém usava mesmo assim quase que totalmente com os homens. 

Um em particular usado quase que somente com as mulheres era o grande alicate de pressão imposto às línguas delas até serem arrancadas para fora: aqui também se fazia necessário o golpe final, igual ao dado aos homens. 
Os métodos, como já explicado, podiam ser alterados - e eram - para homens e mulheres, podiam ser alternados ou mesmo repetidos para ambos. Não havia grande diferença sobre quais alvos ele deveria usar X ou Y arma: usara o fio com mulheres assim como o formão com os homens.

"Porque não uso arma de fogo? Ah, que pergunta mais despropositada! Claro que uso, mas quase nunca. O que? Ah, por que? Bem, primeiro que faz barulho. Sim, eu poderia usar um silenciador e é o que faço quando eu uso meu velho .38 - faz um rombo no corpo dos infelizes. Rsrsrsrs. Segundo, porque meu porte de arma está vencido e, portanto, saio cada vez menos com o revólver. Gosto mais do silêncio das bocas que tentam dar a última cartada comigo, por isto é mais comum e mais tesão usar as ditas armas brancas: eficazes e silenciosas. 

Sim, claro! São mais interessantes porque aqueles segundos que faltam para a morte, eles tentam balbuciar algo ininteligível. É, gosto desta palavra: ininteligível, porque combina bem com eles: suas ações também são incompreendidas por mim.Ah, tem também o fio de náilon. Este é ótimo: desperta nenhuma suspeita e atinge o alvo para judiar um tiquinho a mais. 

Não entendi, pode repetir? Ah, ok! não tinha escutado direito. Sofrimento não é bom para ninguém, quem decide isto, o sofrimento maior não sou eu, aliás, nem sei quem decide... Se é que alguém decide... Eu uso o náilon, mesmo que não seja instantânea a morte, pelos segundos de demora a mais que ele causa. E outra, muitos desfalecem e eu nem preciso quebrar nada do infeliz... Por isto. Eu gosto do fio de náilon: fino, corta feito lâmina, invisível e por aí vai".

Terminara mais um depoimento, só para variar a alta hora da madrugada, escutando os gatos da vizinhança namorando. Quedava-se cansado com as pálpebras pesadas como halteres implorando pelo descanso merecido. Aos finais de semana, ele se permitia dormir mais tarde e acordar na hora que fosse. E aos domingos à tarde, um período de modorra, voltava à cama e tirava um soneca reparadora para enfrentar a noite que vinha em seguida (se precisasse compensar um período), esta sim o oposto de qualquer "estabilidade sonífera", digamos assim.

http://theflirtyguide.com/pages_ideas/idea_diy_hand_beaded_swarovski_crystal_veil.html

Nenhum comentário: