terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

65 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - TRAIÇÃO DETALHADA

Reprodução [sítio abaixo]
Estendido de costas pelo chão do carpete, no melhor lugar que há para dormir fora da cama, ali perto da sacada, alta hora da madrugada - as horas mortas -, ele pensa sobre o que Maximiano lhe falou contando de maneira entusiasmada poucas vezes vista por ele; o conselheiro-mor e o príncipe dormem ao lado ressonando com a tranquilidade infantil tão característica de ambos. Vestindo as meias, cueca e camiseta de dormir, e resistentes baforadas no cigarro.

O brilho nos olhos e as mãos em desalinho pelo ar, braços que se moviam, um irrequieto quadril sobre a cadeira, e seu amigo metálico lhe disse que a esposa grávida está de dois meses e que eles irão se separar. Com detalhes que beiram um esquadrinhamento por varredura como agências de inteligência faziam - e fazem - ele rememora cada minuto da inusitada conversa entremeada por chopes, conhaques e uma comida aqui, outra ali.

--- Já voltei para casa do meu irmão, quase de mala e cuia. Também, depois do que aconteceu, nem dava mais para morar junto. Falta passar lá e carregar o resto das minhas coisas. Tenho muito o que pegar lá e já arrumei um amigo que tem uma picape. Sábado tiro tudo. Sabe, estou tão aliviado, posso dizer que estou contente!
--- Entendo. E ela, como está?
--- Não sei responder isto, não sei mesmo. Mas não me preocupo se está bem ou não. E mais, nem quero saber. Tenho que me preocupar comigo agora e isto está tomando conta de tudo o que estou fazendo. Ela nem merece minha preocupação, nem que eu a procure para tentarmos reatar.

 --- Ia perguntar isto, tirou da minha boca. Você não pensa que pode ser mais uma crise passageira, alguma coisa assim? Calma! Deixa terminar. Você dizia que ela te amava, que fazia de tudo por você e que na cama se davam super bem. 
--- É bem isto: eu me dava bem com ela, mas ela não se dava comigo. Você imagina o que aconteceu? Olha, primeiro, eu estou muito contente que vou ser pai! Isto me enche de alegria e satisfação, mas... 
--- O que foi?
--- Simples: ela, ele o vizinho da frente, na cama, trepando!
--- Ah! Sério? Nossa!
--- Maior putaria, sem camisinha, de quatro, no anal!
Pela descrição cheia de detalhes, ele ficou desconcertado. Maximiano logo percebeu.
--- Exato, é esta cara mesmo que você tem que fazer! Eu ainda fiquei ouvindo antes de fazer uma entrada triunfal no quarto. Você não sabe: eu gravei com o telefone! Gravei! Faz uns 20 dias. Meu, eu entrei como se nada estivesse acontecendo, peguei meu relógio - este aqui, ó - olhei para ela e disse: "Assim, sem encapar o danado? Quer me passar aids é? Safada sem-vergonha!". 
--- O quê? Duvido! 

--- Calma, não acabei. Eles pararam, eu saí do quarto e da cozinha pude ouvir ambos tentando se vestir rapidão meu. Falando coisas, o que não sei. Até aí, estive calmo. Quando ouvi a palavra chifrudo, derrubei todo o café na camisa e engasgado fui para cima deles, dos dois! Ele saiu correndo, mas antes consegui dar um murro nas costas dele, foi só. Mas percebi que ele deu travada na respiração.
--- Cara, nem sei o que falar! Estou perplexo.
--- Depois, fui falar com a biscate. Discutimos e tal. Falei um monte! Um monte! Até de sexo anal, que ela se recusava a fazer comigo porque dizia que, como é evangélica, Deus e o pastor proíbem. Evangélica? Sei. Sei muito bem! Ela esqueceu de dizer que Deus é contrário à traição. Saí da casa naquele dia mesmo. Incrível que eu estou aliviado, sei lá... Feliz porque vou ser pai. Claro, vou fazer o DNA mas tenho para mim que o filho é meu.
--- Poxa, que bom então.
--- Mas nos dias seguintes cara... Tive vontade de morrer, de me matar, de sei lá. Quis comprar uma corda e me enfocar, tá ligado? Que tristeza do inferno cara. Mas passou, uns dias depois. Ainda bem.
--- Cacete! Ainda bem mesmo que não fez!


Ainda deitado perto da sacada, pôs-se a pensar em tudo isto que lhe fora contado. Adormeceu, usualmente inclusive, por ali mesmo. Acordou no meio da noite, também usual, e dirigiu-se ao quarto com o Felino nas mãos e o Rex cambaleante atrás o seguindo. Murmura sua perplexidade já na cama antes de cessar a vigília. "Nossa, coitado dele! O que eu faria nesta situação?"

http://www.mccamley.org/blog/tag/jew%20of%20malta

Um comentário:

João Macruz disse...

Muito bom! Que situação, hein?