sábado, 10 de agosto de 2013

VIAGEM CXXXII - RODEANDO HUMANOS NO RODEIO

Reprodução [endereço abaixo]
Passeava pela cidade que não tem mais fim com seu seminovo sedã de velho, modelo 2011, cor preta, bicombustível, duplo airbag e o escambau a 4, quando já na saída pela rodovia dos Bandeirantes ouviu pela rádio - sintonizada em uma estação de uma cidade próxima -, a propaganda sobre uma festa de peão de boiadeiro, um rodeio, que seria aberta hoje, logo mais à noite. Agosto tem esta única sina de crueldade e dor.

"É para lá que eu vou. Faz tempo que não 'trabalho' fora de São Paulo. Outras cidades também merecem minha limpeza e as execuções decorrentes do meu esforço em melhorar o mundo e minorar sofrimento". 

Decidiu sem sombra alguma de dúvida no claro céu de brigadeiro que povoava sua mente profissional. Percorreu mais uns 50 quilômetros e chegou ao festim elaborado pelos velhacos endinheirados. Observou e já de cara, teve por certo escolher 3 para iniciar os trabalhos: um peão, claro, um organizador, óbvio e um espectador, evidente.

Esqueceu-se de um artista que lá se apresentaria na abertura. Na verdade, uma dupla sertaneja de Goiás (mais uma entre várias) que anos passados envolvera-se em uma briga pela imprensa acerca da defesa dos rodeios e da crueldade impingida aos bichos. 
"Não posso acreditar que Goiás só tenha duplas sertanejas para apresentar ao resto da 'nação potência' das mil maravilhas de Brasília, dos postes iluminados que acendem por lá... Deve haver algo mais lá do que estas duplas saídas do inferno de Dante, decerto que há. Cérbero cochilou e eles escaparam".

Estacionou o carro sentindo-se virulentamente ensandecido de gana de matar. 
Rodeou antes para escolher entre os machos de calças apertadas com os bagos espremidos e... "Tive uma ideia. Esta calça vai combinar bem". Rodeou bastante pelo recinto até bater o martelo em um que apregoava ser o melhor do Brasil, um dos melhores do mundo.  
"Você vai ver onde vai ser o melhor de agora em diante. Darei 'ordem' ao Cérbero para ele não deixar você nunca mais escapar. Para você, eu saí de lá de onde veio o cão. Divertido isto de ser vigiado por um cão, um bicho, um animal para você, não é? Que ironia, não é?".

Assim que ele terminou de se apresentar no moderno Coliseu, o talzinho foi pego pelos passantes da calça, teve a boca imobilizada, éter no nariz para tontear o tonto ainda mais, como se fora possível isto. Apertou-lhe os bagos - como também se fora possível isto - e foi rasgado pelo bucho, estripando-se pelo chão coberto de serragem.  
Deu-se tudo atrás do banheiro da área vip com muita rapidez tamanha fora sua avidez, sempre contumaz, quando via e presenciava injustiças perpetradas contra seres frágeis que não tiveram chance de escolha.

Todavia, ele vê que: "caminhando um pouco mais deparei-me com imensos coqueirais" (mas não no Ceará); ali organizadoras da festa, paramentadas com a fantasia fálica de "country girl", conversavam com ânimo e descontração. Até que apenas uma ficou falando em seu moderno celular. Sim, a bota com esporas gigantes, a ponteira de prata que reluzia com quantidade de grandes postes espalhados pelo local da "festa"; engoliu todas as duas de uma vez até espetarem-lhe a garganta e o nariz. Morreu estrebuchando. Sem dar um pio sequer.

No caminho de volta para o estacionamento, já dentro do carro, acendeu um cigarro e esperou apenas um minuto. Escolheu um pagante que comprou o ingresso mais caro porque ouviu deste que "gastei metade do meu salário, mas vale à pena" e que fora lhe pedir o isqueiro, todo cambaleante. Para este, tão idiota e tão bêbado, coube apenas uma esganadura, não sem antes dar-lhe com a chave de roda nas costas, de maneira contundente; ouviu apenas seu gemido seco, surdo. Também rápido.
Acabara. 

Decidiu ir embora porque poderiam descobrir os corpos e a coisa toda se complicar.
"Esta porra vai até o fim do mês de Otaviano Augusto, porque pretendo voltar para catar um daqueles artistas que se apresentam na arena da chacina, ou a dupla. Isto se a polícia federal não interditar esta porra de festa. Bem feito. Mas espero que seja semana que vem, assim termino o trabalho todo. Cantorzinhos cúmplices apenas me aguardem".

Sentiu o cheiro entranhado de estábulo por todo o caminho de volta a São Paulo.

http://bidat.denveroldwest.com/1920s-Cowboy-boots-with-Buermann-Spurs_i8531429

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