quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

63 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - UM DIA ANTES/UM DIA DEPOIS

Reprodução [sítio abaixo]
Do aniversário. De completar mais um ano.
Um dia antes é o dia da expectativa, é o melhor dia de todos os 365 (não que valha hoje a receita... Valia, mas agora não é o melhor, nem o pior; apenas esperado).
Um dia depois é o dia da ressaca cronológica, talvez o pior dia dentre os 365 (este ainda vale como sendo o pior de todos).

Quando fez 18, 19, 20 anos e até seus 30, 35 anos, o mês anterior já se tornava um período de grande ansiedade e de grande expectativa pelo que viria no grande dia. Sim, porque o dia - o durante - ainda quedava-se como o dia mais importante dos 365 dias, ou 366, que completam o ano. Na semana anterior, a festa já estava programada com os amigos, já avisados. Normalmente, realizava-se na sexta ou no sábado, quando  grande data - o durante - no calendário, caía em dias da semana. Recorda-se que teve uma exceção, quando fez 28, e a festa foi um almoço-churrasco em um domingo; estendeu-se até quase à 1h da segunda-feira. 

Agora, entre os 40 e os 50, alcançado a segurança financeira e profissional. o dia anterior é ainda um dia de expectativa, mas não de ansiedade; fica por conta que não há muita gente que vá se lembrar, talvez um o outro ligue, o que ele duvida. Então, chegando perto do dia - que já não é mais o grande dia, como fora durante mais de 30 anos - ele procura pensar em outras coisas que lhe ocupem a mente de um quase senhor de 50, ainda que alguns falem que ele mal chegou nos 40. Vai fazer 46 anos em 2013.
 
Ano retrasado fizeram uma festa-surpresa no fim do expediente; bolo, 'parabéns pra você', refrigerante meio quente, copo plástico (ele detesta), brigadeiro, canudinhos doces e salgadinhos. Gente do andar de cima, do andar de baixo, seu futuro chefe - hoje é o presente chefe, único -, secretários e um monte de mortos de fome para comer tudo aquilo. Ele, quando levado a reunião de mentirinha e abriu a sala, quedou-se embasbacado e quase inerte como um urso polar no Ártico, não se mexeu, por segundos. Quando a editora-adjunta lhe pôs um chapéu (de criança) em sua cabeça e o elástico rompeu-se, ele saiu da catatonia e mergulhou então na festa. Foi um esforço que teve que se forçar para disfarçar o que seu pensamento tinha e que a cara não podia transparecer. Ele o fez com maestria digna de Beethoven. Aprenderam que não devem fazer mais festas como estas.

Quando o dia passa, ele percebe que um tempo que já foi... E foi para onde? A ressaca moral passa longe do fato de ficar um ano mais velho - isto não é, nem nunca foi problema para ser tratado com psiquiatra algum - e sim pelo fato de toda a expectativa ir embora, acabar, murchar e nada ocupar tal espaço. Passados dois dias, tudo vota ao normal, como sempre é para ele.
No dia anterior, faltando pouco para terminar o dia, o telefone interno toca, pela enésima vez. Seu secretário substituto avisa que há um homem que o espera na sala de entrada, no primeiro andar.

--- O nome Eduardo! Você perguntou? 
--- Maximiano. 
--- Ok, fala para ele aguardar uns 10 minutos que eu o encontro lá embaixo.
--- Nome de imperador romano, né, chefe? Porque não é tão comum hoje em dia.
Ele ri com certa surpresa e deboche.
--- É subalterno, do final do século III ao começo do século IV. Diga para ele esperar e manda servir um café e água enquanto isto. Não demoro.

Sem se apressar, ele junta suas coisas, pega o telefone, desliga os dois computadores, a TV só com a imagem, fecha gavetas trancando todas, a janela que tem uma vista linda, a porta do banheiro e sai.
No elevador encontra gente de vários andares. Um deles comenta sobre o aniversário que está próximo porque vira na lista exposta em todos os andares. Ele assente com a cabeça. E distrai-se no instante seguinte da conversa dos outros durante a longa viagem ao térreo com paradas múltiplas.

"Porque será que o Maximiano veio hoje aqui? Esteve na semana passada duas vezes e ficou com uma conversa mole, porque parecia que queria dizer alguma coisa, mas não dizia... Estranho. Este é ele, sempre falador, mas com muita cautela com o que fala, ele escolhe o que fala e, pelo visto, para quem fala. 'Maximiano'. Nunca pensei, aliás, porque ele tem este nome e se ele sabe quem foi e o porquê de terem dado a ele... Vou perguntar".


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