sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

62 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - VITÓRIA CONTRA ELE MESMO

Reprodução [sítio abaixo]
Vinha de um passado de lutas inglórias, parecendo mesmo o grande vão do MASP - lutou em vão contra o que ele mesmo não desejava, mas que à época, nem tinha noção ao certo do que sentia de verdade. Então, decretou, tempos depois, que a guerra civil dele contra ele haveria de terminar tão logo esquecesse o que passou, tão logo depusesse as armas e tão logo suprimisse quem quer que fosse de sua vida. Desejando não desejar, querendo não querer, não houve trégua até o momento em que se auto-coroou - como o imbecil Napoleão - vencedor de si próprio. Durante muito tempo, a luta foi em vão, o maior do mundo, tal foi vão o citado acima.

Hoje, a vitória consolidada está, sem arroubos de lutas, de emboscadas, tampouco de estratégias para mitigar o sofrimento que (ainda) tem, já que humano é, tem lá suas vergonhas e soberbas. Igual ao restante dos 7 bilhões que povoam e pululam no super habotado planeta. Venceu as batalhas, perdeu algumas e a guerra foi ganha; meio tarde, porém em tempo de sublimar todo o passado e se lixar um tanto para o futuro - vale mesmo o presente de agora, hoje, neste minuto. 
Tem havido uma tranquilidade oceânica no que se refere a sentimentos pelos outros, o que vale dizer, por alguém em especial - sem especialidade por qualquer que seja. Isto também entra no balanço da guerra e a solidão lhe traz um alento de que vai bem, muito obrigado. A vontade de continuar assim o mantém, de maneira inequívoca, na estrada protegendo-se a si mesmo.

Concentração no trabalho, no dinheiro e, evidente é, em seus dis companheiros que fazem parte intensamente de sua pacata existência. Tirar de seu reto prumo, somente mesmo as questões da editora, as negociações com o autor do livro e as desigualdades que enxerga todo dia mundo afora, porque mundo adentro não há sequer alguma para contar a história. 
Sim, o que tem provocado dor de cabeça contumaz é quanto o ovo livro vai vender - "Meu amigo é um cachorro, meu amigo é um gato", do quase amigo veterinário do Felino e do Rex. Fazendo um raciocínio rápido e objetivo com base no lançamento do livro, as vendas deveriam compensar e muito todo o investimento - leia-se todos as despesas e o contrato assinado com o autor. 

Todo o estresses causado por este processo desanuviou-se no dia do lançamento em um grande espaço improvisado do lado de fora de uma livraria imponente de São Paulo. Gente bacana, imprensa, convidados muitos com seus bichos de estimação, comes, bebes e claro, os holofotes no autor. Ele, discretamente, sabedor da inebriante sensação de sucesso que vicia, pôs-se ao largo disto tudo e preferiu manter enterrada toda sua cruenta guerras de muitas batalhas para que ela não se reavivasse ali no local. "Melhor assim, continuo protegido de tudo e de todos". 

Em uma sexta-feira quase fria em pleno janeiro, postado à janela de sua sala, observando a cidade que parace ser infinita, uma ponta de saudade tem: aquela de ter saudade de alguém... Rapidamente desvia seu pensamento. Levanta-se, aborda seu secretário substituto que parece trabalhar melhor que a titular - agora em licença-maternidade - para repassar os compromissos da semana que vai entrar. 

--- Segunda-feira vai ser um dia tranquilo. Mas terça o senhor se prepare. Reunião de manhã e à tarde, esta com os representantes da Editora Portuguesa de Novas Letras. Tem também vistoria do novo parque gráfico da editora. A da manhã é para iniciarmos o balanço do ano de 2012.
--- Com você somente?
--- Sim, eu, o senhor e os arquivos em power-point que tanto nos deu trabalho. Foi uma guerra que mais parecia os escombros de Hiroshima.
--- Fácil esta! Nem guerra foi. Lançaram a bomba e pronto, acabou-se. Preocupo-me com este balanço aí. Terça você não tem que fazer os exames, aqueles que me falou no início da semana e que não pode ser mais adiado?
--- Exato. São estes mesmos.
--- Vamos transferir nossa reunião para segunda-feira. Está tudo pronto e vai ser melhor assim a gente mata o inimigo logo de cara. E estou ansioso para analisar os números e apresentar ao poderoso-chefão do andar de cima. Ele tem me cobrado.
--- Eu sei. Por mim, combinado está.

No fim do dia, absorto pelo caminho de volta e porque é começo de fim de semana, seu passeio de retorno ao castelo intransponível será um pouco mais demorado. Um chope gelado no bar-restaurante da esquina do trabalho o acolherá bem, sem grandes expectativas. Entrando, ele vê casais, turmas e soltitários de todos os matizes aglomerando-se em volta de mesas e encarapitados em banquinhos de balcão, lugar preferido dele. E tem sorte, porque nem a metade deles está ocupada .

"Aqui estou enquanto deveria estar em meu castelo que ninguém vence. Parei por causa da sede, mas pela sede, eu poderia comprar uma lata de qualquer coisa e continuar meu caminho de volta. Resolvi parar aqui para ver como o mundo gira sem minha efetiva participação. Beijos, abraços, afagos, cochichos, juras e muito álcool. Que mistura insana! Alguns casais recém feitos, outros de longa data. Aquele do canto direito, ambos com aliança e com uma proximidade visível devem estar em paz incendiária. Ali - que espaço democrático - outro casal, formado por 2 homens, gays, é óbvio. Também de mãos dadas, sorriem sem parar um para o outro. Chamaram o garçom para trazer-lhes a conta. Devem estar com pressa para ficarem a sós. Um grupo de amigos que mistura engravatados como eu, mulheres de terninho e um 'parabéns pra você' a uma delas. 

Uma mensagem por celular chega depois de ficar por lá quase uma hora, com dia já escurecendo, do amigo de sorriso metálico querendo saber onde ele está. Responde e em 10 minutos ele o encontra e senta-se no banco ao lado. Mais dois chopes, o dele acompanhado de um copo de água gelada porque o ajuda a não perder a conta nem a batalha pela sanidade. E igual da outra vez, conversarão por longo tempo, sem papas na língua perdendo a noção do tempo; talvez a única guerra que ele possa ser vencido.

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