domingo, 29 de abril de 2012

VIAGEM XLVII - RACIONAIS E IRRACIONAIS

Reprodução
Um dia todos prestarão contas, todos os homens  e mulheres,
sem distinção de qualquer espécie.
Será um acerto certeiro, misericordioso como nenhum de nós foi (nem que pudéssemos) durante o tempo de viver.
Nivelados por aquilo em que somos tão iguais: dor, arrependimento, incompreensão.
Todos os atos serão postos ali, na mesa, lidos em um "caderno" de anotações, com páginas
repletas de letras/palavras contando a vida de cada um de nós. De todos os dias vividos.
Um livro que escrevemos a todo momento, muitas vezes em linhas mal traçadas e tortas,
com letras ilegíveis, sobre atos medonhos. 
Sobre nossas armadilhas engenhosamente preparadas e escondidas.

Antes do acerto, aqui embaixo mesmo ou onde você queira o que é o oposto do "de lá",
há o ar, há a água, há o fogo e há a terra. 
Há os outros seres; aqueles que tiveram o sopro divino.
Juntos eles proveem nossas vidas.
Agregamos tantas coisas vindas de nossa mente que pensa freneticamente, 
até mesmo quando dormimos;
desenvolvemos parte delas tão egocentricamente, um grato jeito de ser preponderante que gera prepotência,
jeito muito apreciado inclusive por tantos que se julgam 'inocentes' e/ou 'ingênuos'.
Inocência de quem? Ingenuidade de quem?
Conceitos, culturas, modos, afazeres, gostos, vilanias, sujeira podre e fedorenta.
Porque desenvolvemos o mal que volta-se àquele que nada pode fazer para detê-lo.

Vendem-se argumentos mentirosos adquiridos por verdadeiros ao longo dos dias sobre a Terra. E nos julgamos inteligentes pelo fato...
Loas são entoadas ao mais fortes, aos mais aptos, aos mais espertos. 
Ao mais racional. Aos primeiros em tudo.
Nós compramos e, reparem, compramos faceiros e felizes. 
Ansiamos pelos tais argumentos.
Somos os melhores, os maiorais, aqueles que dominam e matam.
(um império de Césares decaído do alto do azul )
Uma lógica infernal que se apropria do coração e da delicadeza do amor.
(delicadeza do amor cumpre um papel de coadjuvante em letrinhas miúdas)
Aos mais fracos pouco resta a fazer. 
Aos seres irracionais, o raciocínio lógico aplicado com precisão cirúrgica: o corte sem a anestesia e a dor que toma conta do corpo. 
Tortura que promove diversão? Onde há diversão nesta tortura?

Então... Vai chegar o dia de explicar a dor, o egoísmo e a racionalidade implacáveis.
O que haverá de sair nesta explicação mal e porcamente feita?
Argumentos humanos: tentativas desesperadas de explicar o que pode ser inexplicável.
A danação imposta (somente como os tiranetes esquálidos e patéticos impõem - não há tiranos, eles são tão mesquinhos que se tornam menores) vai passar pela frente em um curta-metragem barato, de poucos recursos.
(como Brás Cubas viu a existência de anos condensados em minutos passando em cima de um hipopótamo)
Ver-nos-emos pedindo e pedindo e pedindo o que não nos compete mais pedir porque não poderemos mais nada; a supremacia de glórias mil exercida de antes transformar-se-á: igual ao pó de onde viemos, jogado ao limbo.
Será um encontro intransferível, pessoal e justo. Nada se transfere daquele racional, os atos são atos e são instransferíveis.
Na hora nada há de se acrescentar, nem há de se apagar.
E o raciocínio não vai contar é nada.

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