terça-feira, 17 de abril de 2012

UM ROTEIRO PARA RODAR

Reprodução, São Paulo

Cidades onde se falam incultamente o mais belo idioma.
São Paulo, Lisboa e Luanda. Três tão diferentes cidades com idiossincrasias construídas ao longo de suas vidas pelos homens que por lá passaram.
O que poderia ter em comum às três grandes? Além, é evidente, do idioma tão belo e inculto (como diz o Pasquale) que nos une e nos faz amalgamados por tão laço apertado e a termo, eterno.
Personagens humanos passeiam pelas ruas de São Paulo, de Lisboa e de Luanda. Debruçadas sobre o grande Atlântico, a europeia e a africana são como pessoas a contemplar o mar e a imaginar o que há do lado de lá, "os amigos de outros povos", nos litorais recortados pela intensa movimentação das placas tectônicas crosta adentro. São Paulo não se debruça sobre as águas; se debruça à Serra do Mar, experimentando uma pequena diferença em relação às outras duas. Está mais perto do alto, de onde tudo vem.
Dezena de milhão, milhões e milhares. Construções imponentes de um passado mais vistoso, construções contemporênas mostrando um presente que salta aos olhos. Miscigenação em todas.

Reprodução, Luanda
Espraiando-se por dezenas de quilômetros, centenas, a mancha urbana paulistana esconde a beleza que há de ser descoberta, desnudando-a sem medo, sem pudor. Porque é assim que é esta cidade.
Personagens os mais variados, diversos por este mundo das 3. Característica que paira sobre os edifícios mais altos de Luanda, Lisboa e São Paulo; que serpenteia pelas grandes avenidas, marginais ou não. Pelas ruelas mais estreitas onde antes havia cântigas de amigo/amor em trovas tão dedicadas.
Onde hoje, distante daquele tempo de exportar gente para terras outras, vive-se um sentimento de vontade de seguir, esquecendo aquele que tanto nos envergonha.
E isto as torna tão especiais: as pessoas, os falantes, as vontades e os relacionamentos.
Ritmo de melancolia ou de euforia? 
Pequenez ou grandeza?
Dança ou quietude?
Ao mundo anglo-saxão, ao mundo hispânico, ao mundo chinês, ao mundo russo: o que os traz em tamanha soberba? Tamanha vaidade de serem o que são: em guerras, em saques, em predomínio cultural e econômico, em devastação ambiental. O que mais?

Reprodução, Lisboa
Em cada pedaço de terra, em cada pequeno pedaço do coração, as vontades de ir em frente e de amar porque é disto que é nos feita a vida no planeta. E nada mais vale à pena àqueles que julgam que viver é preciso.
Brancos, orientais e negros todos juntos no mesmo lugar das 3. 

Agora.
- Um vai apressado ao trabalho pensando nas contas e na noite de amor incrível que experimentara, mas que pode ter sido a última. Em seu carro comprado em 60 prestações porque assim reza o consumismo, ele bate os dedos na direção e se lembra que esqueceu de dar o nó na gravata. Acerta-se pelo retrovisor elétrico porque assim reza a tecnologia e o motoqueiro lhe xinga, o que conclui que "o dia de hoje promete".
 

- O outro já está a caminho no refeitório - hora do almoço - da empresa estatal de petróleo; prepara-se para uma reunião sem fim que deve se estender até o fim da tarde com empresários chineses que querem mais e mais. Da noite, ele lembra que houve prazer, mas "aquilo não deve ser amor não...". Findou-se por fim nos documentos que carregava dentro da pasta. Não podia esquecer as apresentações em power-point.
Enfim, o outro mais ao norte:
 

- O desempregado na casa dos 40 a passear pela praça rememorando que logo mais teria direito à herança tão duramente acalentada por vários anos. Mostrou-se um filho querido e atento, mesmo quando fora despedido do departamento de Recursos Humanos do hospital maior do país; Lá na frente, ele vislumbrou - e acertou - que se se dispusesse a ser abnegado "ei vou amealhar toda aquela riqueza". Quanto à noite anterior, ele só se lembra dos comprimidos que tomara.

(tudo isto que foi escrito está na cabeça de um diretor de cinema ainda meio jovem, ou dependendo do olhar quase um "tiozão", desgrenhado e que deseja rodar um longa-metragem nas 3 cidades mostrando e demonstrando ao mundo o que pode ser feito por estes habitantes tão apaixonantes; para que isto ocorra, ele precisará de capitais vindos de onde? De certo que terão dificuldades titânicas, mas a vontade dele é hercúlea. Ele ainda escreve o roteiro ajudado por dois amigos, ambos amante do cinema, como nenhum outro; debruçam-se sobre a tela e vertem ideias e frases, criam os personagens. Na outra vez que retomam, por vezes, jogam tudo fora o que foi escrito e guardado para então recomeçarem novamente)

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