sábado, 18 de setembro de 2010

021 - AS PESSOAS DO ESPELHO I

Verdade que depois do acidente de trabalho de seu amigo Simão, as noites de bebedeira ficaram incompletas e aéreas por completo mesmo que o bar de Congonhas riscado do mapa foi.Gostavam de ir lá para variar dos botecos meia-boca que frequentar acostumados que estavam, achavam por bem ir a lugares outros. Claro que isto motivava-se pelo fato de lá no aeroporto haver pessoas mais interessantes e mais ricas na mesma porporção de haver pessoas mais segragacionistas.
Talvez mais bonitas também. E mais ainda apartadas do restante.
"Também com aquele banheiro vigiado por dois funcionários metidos naqueles uniformes que parecem de presidiários...? Nem deu para ficar 'ao léo' dentro do compartimento. Apesar de que eu podia ir sozinho porque ele só vai sair do molho amanhã e um cara sozinho assim não dá nada. Posso até vestir-me como um canalha disfarçado de poderoso. Lá em acho que passo sem ninguém perceber. Não demora Duílio, porque é 'melhor pensar depressa e escolher antes do fim'. Eu devia ter pegado mais lá na casa do João Monumento. Agora já foi, porque que se foda! eu tenho o suficiente aqui".
Táxi, que ficou quase R$ 50, estacionou e ele depressa como um raio desembarcou sem pegar as moedas de troco porque apertado que estava, resolveu ir ao banheiro para obedecer o grito da mãe natureza que àquela altura arrepeiava os pelos todos do corpo, da nuca ao pé passando por todos eles.
Foi então que viu um daqueles modelos famosos que ainda ganham menos que as modelos. Esperando como um ser qualquer, do mundo dos mortais, ele sentou-se ao lado duas poltronas depois.
A movimentação toda de Duílio, barulhenta e atabalhoado como sempre nestas circunstâncias, chamou a atenção do 'magnânimo' Apolo. Bem, mas foi por alguns segundo apenas e ele mais do que rápido voltou a ajeitar o fone no ouvido e divagando em seu mundo mítico de espelhos e narcisos floridos - ou não - na primavera das calendas gregas.
"Deve estar me achando um atrapalhado de marca maior. Se ele soubesse o que eu tenho aqui no bolso do meu jeans ele ficaria todo contente em falar comigo. Mas com esta cara de quem não pertence ao mundo ao qual pertenço, deve ser mesmo um antipático.
Nossa, agora que eu vi. Tem um pacote caído perto do pé do Apolo dos Trópicos. Sapato preto lustradíssimo. Bem, a sola me mostrou mesmo que é italiano".
Entortando-se todo para poder ver o que entreaberto continha o envelope ele se abaixou e fingiu amarrar o seu tênis-bota para poder disfarçar a verificação.
"$ e a passagem, eu acho!"
Em um átimo, ele pegou o envelope sem que o Apolo Modelo Sobreumano desviasse a atenção da música que soava naquele instrumento.
Duílio o cutucou no ombro. E ao virar-se para o mortal habitante ao seu lado, fez aquela cara típica de quem é importunado em seu mundo particular de devaneios superiores de narcísicos homens. Mal olhou para Duílio pensando quiçá o que este homem quer com ele.
"Nossa, que cara mais idiota! Não devia ter pegado nada do chão".

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