terça-feira, 27 de julho de 2010

014 - SOBRE O SUICÍDIO IV

Seguindo a conversa no bar, aquela mesma... regada a uísque, idas ao banheiro, na volta mais uísque; e claro, muitos cigarros fumados encostados no carro. Aquela madrugada seguiu com a pressa do relógio e a vontade de ficar de ambos, Duílio e Simão.
"Assim que ele voltar do balcão eu vou ao banheiro. Estou precisando. E também porque quero continuar a conversar sobre isto com ele, sobre o que é o suicídio, porque, qual a razão destas pessoas. Pensando bem, vou agora. E que caminho estreito e longo é este para chegar? Sempre eu achei muito estranho. Às vezes tem luz acesa, todas, outras só tem uma de 40w, que fica muito escuro. E o cheiro, parece uma mistura de cheiro de construção e de coisas emboloradas, velhas. Pronto, ufa, cheguei. Que caminho é este? Parece, olhando para trás, que um corredor que vai seguir sei lá onde. Da morte talvez? Desconhecido?
--- Nossa, demorou lá! Calibrou bem, pelo visto.
--- É da morte!
--- De novo? Ainda?
--- O corredor cara. Muito estranho e sinistrão para cacete.
"Porque a cara de espanto dele? Ele mesmo disse uma vez que o corredor é escuro"
--- E as pessoas que ficam?
--- Ficam... Ficam o que? Ah, as que ficam aqui, depois que o fraco se matou?
--- Cara, o que acontece com estas pessoas... Porque deve ser uma dor tão grande pela perda. Fora a culpa de ter deixado, permitido, que a pessoas X se matasse. Eu me sentiria.
--- Culpado? Sabia, é bem sua cara mesmo. O único culpado é o idiota que se matou. Concordo que o X se lixa para a pessoa Y que ficou por aqui né? Este sim é que sofre horrores. Que também acho uma pura perda de tempo. Ainda tem neste aí que você guardou no bolso?
--- Muito. Um monte. Eu acho sim que quem gostava muito, amava...
--- De novo amor? Morte?
--- Que quem amava se culparia pela morte. Acho que é um sentimento até nobre, distinto mesmo, porque revela que as pessoas não deveriam se sentir tão sozinhas.
--- Distinto? Qual é parte nobre de sofrer, fala para mim
Precisaram ir embora antes das 3h porque o dono fechou o estabelecimento  que funciona em uma das milhares de esquinas de São Paulo, em uma noite estrelada, refletindo sobre a Vila Mariana.

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