sábado, 31 de outubro de 2009

CONTO

Tem sido o meu preferido até a chegada do último. Eu gosto muito dele.
Vou variar um pouco e hoje deixando de lado política, história, as aflições, o cotidiano, esportes, Palmeiras e tudo mais e publicar um trecho de um conto escrito algum tempo. Nesta década. Como o blog é fazer jornalismo literário nada então se enquadra (da maneira que o leitor bem entender) mais afim que falar sobre o que escrevo. Nada publicado. Ainda.
Sei que o mercado é difícil e os contactos são mais restringidos.
Mas aqui vai. E, olha, foi difícil selecionar um conto. Mais o mais foda foi pinçar um trecho. Ah, a censura interna, não é (risos)?
Então, sem encher lingüiça, está aí.
Nunca tinha escrito nada sobre o carnaval porque penso por vezes ser clichê. Mas e aí se é? Qual problema?
Uma identificação maior com o samba tão presente no Brasil e em São Paulo e um tanto menos em mim.
Sinopse rápida:
A história se passa semanas antes do desfile de carnaval centrado em um presidente de escola favorita que perdera os filhos há pouco tempo. Um cara triste porque pensa que é assim que deve ser, rende-se a um fato do filho morto narrado pelo sobrinho que o faz mudar de idéia acerca de seus conceitos. E chega o dia da apuração.
"...E, em se tratando do conselho... Consistia em 10 membros heterogêneos em vários aspectos.
Os mais decanos possuem uma posição perigosa no que se refere às mudanças como esta da bateria, quesito tão tradicional em qualquer escola.
A bateria nota 9,5 em 2006 causou impacto.
Até hoje este 0,5 ponto perdido foi porque o maestro reticente era em promover a famosa evolução no recuo que todas as outras fazem.
Parente de um anterior fora convencido ao longo do ano que a evolução tinha que ocorrer.
Argumento de convencimento foi que em dois anos como mestre da bateria ele já teve um 9,5. Imperdoável.
Seu cargo ficou na corda bamba em ultimato até julho.
Curvou-se e acabou por gostar da idéia e promoveu um recuo bem ensaiado e em seu entendimento inovador.
E há que se registrar que a bateria conta com 40% de mulheres, índice inigualado por nenhuma outra.
Um dos componentes do conselho havia sido presidente na gestão anterior o que era previsto nos mecanismos estatutários da escola.
Todo presidente ao findar seu mando tornar-se-á conselheiro por mais cinco anos subseqüentes.
O cara é o seu grande aliado nestas pendengas.
Sabia de cor todo o estatuto da escola, era sobrinho-neto do fundador, integrante da comissão de frente.
Por isto escrevia no jornal distribuído na comunidade que ficava sob sua responsabilidade. Tido como “liberal” dentro da escola apoiou em 2003 a inclusão de uma ala destinada aos gays, homens e mulheres.
À época, o taxaram de homossexual, de vendido e outros tantos adjetivos indizíveis que alguns heteros, talvez os mal resolvidos, insistem em colocar de forma pejorativa.
E ele, resolvido e tanto na questão da orientação sexual pouco se importou, banco, peitou e conseguiu que ala “sobrevivesse”.
Hoje, está integrada com o restante.
Óbvio, que o preconceito ainda existe só que a ala fazia muito sucesso com o público e foi a primeira a incluir a minoria gay explicitamente.
O que não ficou restrito à mídia segmentada, a cobertura trouxe visibilidade maior à escola.
Canais de TV aberta e fechada destacaram o fato.
Até mesmo um partido da esquerda operária navegou na questão afirmando que políticas de inclusão sociais de minorias também se fazem pela alegria.
“E o carnaval, símbolo máximo da brasilidade, obrigatoriamente não pode nem deve excluir qualquer estrato social, incluindo-se os homossexuais, que todos sabem, são vítimas de exploração insidiosa e de preconceito.”, constava no jornal panfletário 10 mil exemplares distribuídos em portas de fábrica, escolas secundárias, bancos e universidades.
E já na seguinte 4ª de cinzas.
As três gralhas costumam fazer barulho nas reuniões... E acabam votando em prol de seu interesse. Lógico que uma delas tem uma perspicácia exacerbada e sente como os conselheiros irão votar.

Mesmo que se oponham ou ceticamente dêem de ombros, na votação, que é secreta, elas tendem a votar em conjunto.
Uma espécie de misoginia às avessas contra os abutres masculinos.
Ele crê que por serem minoria de menos de 1/3 elas se sintam pressionadas. Minoria no gênero elas compõem a maioria na etnia: negras como outros três companheiros.
Portanto, as deliberações estão equacionadas no que concerne a atos de racismo, intoleráveis dentro da escola, porque o diretor-presidente é branco, o que não ocorria desde 1980 (e que governou somente 13 meses) e único reeleito.
Mas tem que governar com a maioria negra no conselho. Veladas mesmo, somente as diatribes ditas por uns contra outros. E os outros contra uns.
Nato do ser humano e novo como andar para frente.
E quanto a isto ele nunca teve problemas sérios. Estão do mesmo lado para mudar o sistema de votação: de secreto para aberto, registrado em ata.
Brasília deveria tentar algo semelhante.
A secretária, toda prosa quando estrangeiros visitam a Unidos porque a ela é dado o ato de ciceroneá-los, participa sem direito a voto.
Idioma falado não é só aquele de Shakespeare não. Dante, Cervantes, Goethe, além do “atávico” camoniano.
Já virou piada na escola como ela mesma se referia: uma autêntica qüinqüelíngüe.
Muitos quando da palavra proferida disseram um retumbante “hã, como?”.
Qüinqüelíngüe, ela repetia: ela fala quatro idiomas além do português. Italiano, espanhol, alemão e inglês.
E se ela aprender o francês vai ser hexalíngüe? Permanece no cargo há seis anos.
É uma das que recebe salário juntamente com os seguranças e ajudantes de serviços gerais e cargos de chefia porque a ele não é dado o costume de requerer trabalho voluntário.
Dos 11 sim porque assim reza o estatuto.
Seja bem dito que todos os conselheiros exerciam influência, que se não absoluta é considerável com relação aos integrantes. Considerável sim, comparável à exercida pelo “rei” não."
Valeu.

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