sábado, 23 de julho de 2016

54] CENÁRIO SP - É TANTO BEM-QUERER

Arquivo pessoal - Av. Paulista/SP
das pessoas ele quer os milhões destes seres que habitam a urbe
da cidade ele quer a urbanidade alfa de São Paulo;

do inverno ele quer a cama quente
o aconchego do corpo ao lado, esparramado junto ao seu;

do verão ele quer pernas de fora,

suores à mostra vertidos pelas recônditas partes;

do ar invisível ele quer os odores sumarentos, suculentos;


da pornografia ele quer o gozo;

do amor ele quer a perseverança;

da comédia ele quer a falta de ar,

o riso incontido e infantil;

do dinheiro ele quer a soberania sem rebeldia;


do sangue no Mustang, ele quer o vento na cara;


do vento na cara no Jaraguá, ele quer a vista por toda a Piratininga;


de São Paulo ele que o topo do Mirante do Vale a 170 metros,

de São Paulo ele quer as artérias cheias, pulsantes;

da metrópole ele quer as opções 1000,

os lanches da madrugada, os pardieiros, e o refinamento (tudo a sua hora);

dos subterrâneos ele quer o metrô cavoucando a terra

do Jaçanã a Parelheiros, do Itaim ao Jaguaré;

da moradia ele quer o quarto quieto, de cama desarrumada,

do quarto ele quer aquela companhia solitária;

da maçã mordida ele quer o barulho arrancando um pedaço;


das comidas ele quer a madrugada de domingo para encher a pança,

em São Paulo 24h;

do chocolate ele quer o mais doce e derretido,

e comer igual a um menino: ávido em um sem fim de sabores

da boca seca ele quer a viagem neuronal do THC;

da sede ele quer o copo cheio de gelo a derreter;


da sociedade ele quer o anonimato puro,

da sociedade ele quer a tolerância exercitada;

das companhias ele quer o riso fácil dos amigos para sempre, 

dos amigos para a vida ele quer que sejam poucos;

das ruas ele quer os quadris febris,

da febre ele quer o seu "poço de petróleo" a jorrar;

dos dias que se seguem ele quer a ininterrupção até quando o azul decidir;


do azul ele quer a negro céu a chover embalando sono e sonhos;


da manhã o dourado rei a espalhar sua luz interplanetária;


das manhãs eretas a ida corrida ao banheiro;


do tempo de despertar ele quer o café preto, puro, amargo

que excita, que restabelece e que aviva;

do tempo de despertar ele quer o sorriso do seu amor,

ele quer a primeira vista do dia;

da tempestade ele quer trovões ao longe e a nesga de luz do raio,

impávido, conflitante e rápido;

da semana ele quer a sexta à tarde,

e do tempo ele quer alguém que o queira inteiro pelo tempo que for; 

de sua vida ele quer ajuda sincera, companheirismo e lealdade;


e dele ele quer a sinceridade, a dignidade e o incontido desejo de amar...

no quarto escuro, à luz do sol, antes, durante e depois.

Deitado em um dia qualquer, pelo fim de tarde, ele pensa nestes tantos quereres que ele tem e quando todos aconteceriam em sua vida. Um ou outro já experimentou, outros quase e alguns jamais. Tem certo que, talvez, viva mais por mais uns anos somente e que então nada de novo acontecerá. Vira-se e pega o copo pela metade de uísque escocês e toma em uma talagada só. Nem careta faz. Fecha os olhos e sente o corpo amortecer. 

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