segunda-feira, 13 de abril de 2015

24] CENÁRIO SP - A MÚSICA DAS 4h DA MANHÃ

Reprodução [endereço abaixo]
Ecoando em seus ouvidos ainda desligados do sono da madrugada, a música adentra em seu sonho em uma mistura de vigília e Morfeu - depois quando acordasse, óbvio, saberá desta sincronia entre o etéreo e a realidade.

Acorda em meio ao escuro quase total e os olhos permanecem fechados, bem como seu corpo. Porém a música somente feita de acordes o acordou. Vive um desacordo, então, entre cérebro mandar mensagens de mover-se e o não cumprimento destas.

Quase sem luz, quase... Pela pequena nesga aberta na janela, a luz esmaecida de um noite já sentindo o frio leve de outono adentra pelo quarto em uma total falta de ordem. A escuridão, fora ludibriada pela quase escuridão da luz de São Paulo (a cidade que não para, mas que tem 'quases' aos montes...).

De onde vem a música? Se tudo está desligado, como ele supostamente desligou quando fora se deitar, como ele pode ouvi-la? Por hora, vale dizer, que é o que ele consegue registrar com exatidão no cérebro recém desperto. Desiste segundos depois de descobrir.

Concentra-se no sonho, virado para cima, em meio a travesseiros, edredons e a música. E então, pensa que sonhou o que sonhou por conta dos acontecimentos de antes, desta tarde que se passou de maneira tão rápida, horas que se pareceram minutos, e que tentar desvendar (sim, mais um enigma, além da música da madrugada).

Rua Frei Caneca, restaurante "Autêntica Feijoada", 15h, sábado, outono, lotado
SONHO

Almoçando no restaurante, um tradicional, lotado pela feijoada ainda mais tradicional. Um grupo de amigos comem e bebem rodeando um grande mesa de madeira maciça, de cadeiras largas e pesadas. Um casal e três desparceirados, como uma das três os denominara durante a fase caipirinha do almoço, que começara mais de 15h. Música algo entre MPB e instrumental. A comida demora em chegar e as bebidas já tomaram conta da mesa e se preparam para ocupar as mentes e as línguas.

--- De novo né? Nós, os desparceirados, insistimos nesta condição. Até a Débora, que se dizia encalhada tirou o transatlântico da praia.
Silêncio.
--- Não entendi a ofensa, Carla. 
--- Que ofensa, Débora? É uma verdade, só isto. Somos desparceiradas. Desparceirados, para incluir o Jopa, mediante a este machismo gramatical que nossa língua tem.
--- Eu não! Estou quase namorando. Estamos em negociações.
--- Ora, você fala isto desde... Desde 2012. "Negociações"? Ah, até parece que um dia isto vai mudar. Solitário!
--- Débora, eu gosto mas não sei da recíproca, se existe. Ele é um cara muito ocupado...
O casal permanece quieto, apenas bebendo a caipirinha e garfando com comedimento a enorme porção de feijoada nada light que se colocara à mesa.
--- Porque gays sempre vêm com este coitadismo? Que chato. Parecem uma caricatura daquelas mulheres dos anos 50, que se subordinavam às vontades dos maridos, arrumando desculpas para o descaso e a mentira.
--- Caricatura? Chega né? Vou pagar a conta, porque eu convidei e eu pago. Mas podem ficar todos aí mesmo. Estou indo.

Levantam-se todos e o casal, perplexo, mantém certa compostura e não abandona a mesa - ainda que o restaurante tenha parado para prestar atenção o que acontecia na mesa 15.

Se soubessem que o par formado por Roberto e Juliana estão em séria crise em razão da traição - descobertas - de ambos, pudessem talvez permanecer almoçando em um clima mais ameno.

Inerte na cama, se lembra de onde vem a música: pusera para despertar logo debaixo da cama, o telefone com um aplicativo pela primeira vez com o aplicativo que toca música no lugar do despertador de sempre. Gostou de acordar assim e mantendo-se imóvel por mais longos minutos. Até que sua bexiga o acorde para atendê-la e baixar o sangue. 

E porque às 4h? Bem, câncer não pode esperar e o remédio é sagrado e amargo, mesmo com a lounge music docemente se espraiando pelos ares do quarto.

http://all4desktop.com/4222042-dark-man-abstract.html

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