quinta-feira, 30 de outubro de 2014

06] CENÁRIO SP - MANIFESTAÇÃO DE UM HOMEM SÓ

Em meio a milhares de manifestantes que caminham descendo a rua da Consolação parando o trânsito em três faixas, gritando palavras de ordem, portando cartazes, boa parte destes de braços enganchados, alguns mascarados, outros de cara limpa, ele se junta à turma (ou turba segundo alguns detentores do poder) ali perto do cemitério. Nada de morte, só vida é o que ele sente e verte.

Ele rumava, minutos antes, para casa onde se encontraria com seu antigo amor. Encontraria-se é um tempo verbal um tanto inadequado: ele está disposto a manifestar-se em frente e esperar até que saia para poder explicar, falar, de novo falar e tentar as pazes. Tarefa hercúlea, segundo seu melhor amigo versado em mitologia grega e um conselheiro realista demais para o gosto dele.

Desce então junto aos que protestam por melhor mobilidade urbana: ele e os manifestantes estão fortes e com a cabeça quente; e unidos. Inquebrantável união mesmo sem ele conhecer ninguém. Pelo que ele viu logo que adentrou no mar de gente, deve ser um dos mais velhos, do alto de seus 35 anos! Bandeiras do movimento negro, do movimento de mulheres e claro, do movimento gay - os LGBTTs. 

Chegando à igreja da Consolação, os manifestantes irão descer até a rua Xavier de Toledo para uma - suposta - grande concentração em frente à Câmara Municipal da cidade; percebendo o movimento inconteste dos milhares, ele se depara com ele mesmo em seu pensamento: "O que estou fazendo aqui? Minha manifestação é bem outra, é de amor, de carinho e de saudade...". 

Manifestar-se-á em solidão absoluta - a sua companhia é a perseverança e a verdade. Mas continua a ser uma manifestação de um homem só.

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