terça-feira, 28 de outubro de 2014

05] MILHARES DE LUZES DAS JANELAS

Pontilhado por elas, no espaço delas, nas janelas por onde ele olhe: as luzes das janelas nos prédios mais baixos, nos prédios mais altos. Aos milhares de pontos pela madrugada esparramados pela grande mancha urbana da metrópole-alfa do Brasil, do Hemisfério Sul. Luzes mais claras, mais fracas, aquelas azuis, aquelas fortes, algumas vermelhas.

Na janela que pode ser uma porta de correr, ele fica fumando - e já perdeu a conta de quantos fumou depois do último baseado do dia - imaginando o que se passa nos pontos iluminados dos edifícios de São Paulo; e são muitos no giro de pescoço que fez.

"Insônia e solidão? Sexo rasgado a dois? Sexo solitário? Espera por alguém? Choro e dor? Esquecimento? Televisão ligada? Preocupação? Sexo a 3, a 4...? Trabalho noturno?"

Nesta cidade que funciona tão bem à noite quanto de dia, vários motivos podem ser considerados para se manter acordado madrugada e desenvolve em sua mente uma lista de alguns deles - incluindo o próprio, já que acordado está às 3h15, sem vontade nenhuma de se deitar na outrora cama de amores que depois se tornou de dores.

Trovões vindos da Serra do Mar, ao sul da cidade, pelas bandas de Santo Amaro e o vento começa a se fazer presente, raios e relâmpagos; o céu queda-se de um vermelho enegrecido anunciando a tão esperada e desejada chuva.

"Pro mundo inteiro acordar e a gente dormir" era o que tocava na rádio do computador.

E ele acordado feito cheirador de cocaína sem cheirar uma carreira sequer, vagueia pelo apartamento com todas as janelas acesas, quase no escuro: apenas a luz da cozinha permanece acesa. Imaginando, imaginando... O que acontece pelos retângulos iluminados que seus olhos alcançam.

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