segunda-feira, 15 de abril de 2013

72 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - A CONVERSA

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Aos domingos - e eles são praticamente iguais desde que o personagem se entende por gente em sua modorra das horas - ele faz placidamente o que nem sempre pode fazer durante a semana: dormir a sono solto, sem hora para tomar café da manhã, nem almoço, nem janta; nem banho pela manhã - tudo, ou nada, tem chance de ser feito sem hora alguma. O relógio existe neste dia porque ele existe para sempre, mas nem vale à pena se guiar pelo instrumento preciso. E, claro, passear com o Rex torna-se mais duradouro com caminhada mais lenta e "andante" até lugares por desconhecidos pelo príncipe. É uma incrível descoberta para o cão estabanado cheirar e fazer suas necessidades em locais distantes de onde reside, de onde se protege dos males: seu castelo invencível, intransponível.

Tudo vai de acordo, tranquilamente. E como ele não desligara o telefone por puro esquecimento, "porque aos domingos o artefato deve ficar mudo", segundo suas palavras, o toque o faz despertar da letargia depois do passeio a dois. Se recorda na hora que esquecera de desligar o aparelho que por vezes fica sem sinal (mas isto é responsabilidade da operadora).
Como uma intuição lhe dizendo quem liga, ele atende e corrobora-se o sentimento da mesma.

--- Doutor! Como vai? Tudo bem com você?
Ele mostrava animação já na primeira frase dita.  Comportamento usual em Maximiano desde quando o conhecera na padaria.
--- Oi! Tudo bem, tranquilo. E você? 
--- Bem, indo... Uma passo por vez. Mas tudo bem, estou melhor do que eu estava. Meu, eu estou ligando para saber se você não quer beber alguma coisa, um café. 
--- Agora? Mas onde...
--- Pode ser uma cerveja, sei lá. Onde o quê?
--- Onde você está?
--- Perto da sua casa, na verdade. Tipo uns cinco quarteirões. Vamos?

Supresas não são a melhor parte da vida, ou pelo menos, da vida que ele tem e que preza tanto. E, em se tratando de ser domingo, a surpresa adquire tamanho grande. Para especificar o sentimento de agora, ele é titânico.

--- Você me pegou de surpresa. Nem tomei banho ainda, acabei de chegar do passeio com o Rex. Também não almocei...
--- Quanta desculpa. E mais um motivo para você descer. Eu também só comi pastel de feira. No lugar do café, a gente pode almoçar juntos. 

Telefone mudo de ambos lados.

--- Vamos doutor. Quero conversar com você. Quase 2 meses que a gente não se encontra. Aconteceu tanta coisa que se eu contar, nem acredita. Só ouvindo mesmo.
--- Vou demorar um pouco. Preciso fazer umas coisas aqui para o príncipe e para o conselheiro-mor antes de sair. E tem o banho. Você se importa de esperar eu realizar todo o processo?
--- Ok, eu espero! Você não parece o tipo de cara que embaça para caramba para sair de casa. Não é? Então só não demora muito porque eu estou morrendo de fome. Tem um restaurante quase vegetariano aqui perto, o "Misto de Tudo", pintado de verde e... Acho que é verde a outra cor. Na frente, eu estou. Conhece? Claro que sim, é perto da sua casa.
--- Sei onde é. Como aí de vez em quando. Então, espera aí, toma um café porque eu devo demorar pelo menos uns 20 minutos... 30 minutos, no máximo.
--- Beleza! Está feito. Vai ser legal, preciso trocar umas ideias com você.
--- Sobre?
--- Ah, meu irmão e a mina dele. Eu estou morando lá, você sabe, faz uns meses aí. Mas não estou bem na casa deles não. Complicado viver a três.
--- Imagino mesmo. Ainda mais que você não se dá muito bem com a cunhada...
--- Exatamente! E a coisa começa a pegar por aí mesmo. Quer saber mais? Acho que pode até piorar um tanto, percebe? Sabe... Viu, mas vamos conversar almoçando.
--- Claro, verdade. Até mais então.

Desliga o telefone e nem tem muito tempo de acabar o cigarro e pensar sobre o que pode ser uma longa tarde meio fria de domingo anteriormente pensada em horas de tranquilidade. Pelo visto, a tranquilidade dele está por acabar. Porém, compremeteu-se a ir almoçar com Maximiano e não está a fim de ter o trabalho de pensar em algo que soasse verdadeiro como um boa desculpa, não aquelas esfarrapadas. Sim, irá lá mais por preguiça de se desculpar do que pela companhia. 

A companhia do metálico amigo lhe agrada, não o contrário, é que para ele muito contacto com o mundo exterior fora do trabalho não lhe causa boa sensação. Para isto possui um castelo fortificado.
Pronto para pegar o lento elevador, mas ainda com a cara meio amarfanhada de travesseiro, ele recebe uma mensagem de texto: "Vamos conversar. Venha logo, minha barriga está roncando. Rs". Menos de 10 minutos estará lá.

http://www.posterlounge.co.uk/two-men-talking-in-a-tavern-pr154557.html

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