quarta-feira, 27 de setembro de 2017

73] CENÁRIO SP - O CORRE-CORRE NA PAULICEIA

Arquivo pessoal - Vale do Anhangabaú-São Paulo/SP
Um corre-corre danado. São Paulo, a antropofágica, a "trabalhadeira", a subestimada metrópole brasileira vive intensamente o corre-corre pelos 12 milhões. 

E a busca pode ser por vários, "n", motivos. Seguem pelos carros, pelos trilhos do metrô, do trem; seguem dentro dos ônibus. E pelas calçadas. Tudo para atingirem algum objetivo decente (alguns nem tanto...). 

O tal corre-corre começou mais cedo pra ele hoje. Desperto, muito desperto, ele olha ansiosamente para o telefone que insiste em não tocar, o que significa que a boa notícia ainda pode vir. Nas mãos um copo, dos grandes, de café preto sem açúcar: tudo para estar bem atento ao corre-corre paulistanos - e ele gosta muito.

Precisa logo de uma resposta para lhe salvar a vida, para abandonar a depressão, para ser o que sempre foi: um homem talhado ao trabalho à perfeição. Ele precisa e quer o corre-corre de todo santo dia: fá-lo vivo!

Mas e a ansiedade? O corre-corre é dentro também de sue corpo: o sangue me verdadeira corredeira, os neurônios se chocando: uns afirmando que tudo dará certo com a paciência com âncora; já outros mostrando que a espera não é um bom sinal. Só mesmo esperando para saber qual grupo terá razão.

Ansiedade toma conta. Boca seca, mesmo depois do café. Um leve descompasso no batimento cardíaco. Mas e o telefone? Nada vezes nada: imutável em seu "silêncio ensurdecedor". E uma dorzinha de quase nada. E pensa que deve ser a tal da válvula mitral dando algum retorno a ansiedade.

Mas ele aumenta. Muito. Sentado agora na sacada, em busca de um pouco de ar, ele já quase não respira. Em pé, porém por mais um segundo apenas. E cai ao chão, sentindo uma dor de peso em seu peito. Sente como se um caminhão tivesse sido posto em cima dele, dificultando sua respiração. Pedindo socorro ao resgate, uma outra ligação em espera: é aquela que ele tanto espera.

A cidade segue seu ritmo normal, tão a cara dele. A cidade vai pelo dia, adentrando em sua miríade de tantos afazeres. 

E ele? Ainda com o telefone à mão é resgatado. Sirene enlouquecida, curvas rápidas, arrancadas abruptas, e o corre-corre para salvar sua vida. Este sim o único que importa de verdade neste exato instante.

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