quinta-feira, 14 de setembro de 2017

VIAGEM CCCXXXII - OS ABRAÇOS

Arquivo pessoal - Avenida Paulista/SP
Lembro-me bem, como se fora esta mesma noite. Ainda bem que não é...

"Acordei no meio da noite, não sabia na hora, celular ainda carregando no criado-mudo, cego por um átimo, sintonizado em uma rádio on-line que tocava... Tateei, silenciosas 2h52.

Era eu mesmo, um quarto qualquer, em uma rua qualquer, cidade de quaisquer 12 milhões, a música, tudo parado, eu e apenas eu.
Eu ali, em repouso, tive medo do pesadelo da realidade, do dia a dia, da força de estar parado.

Empapuçado pela noite de calor que fazia, dezembro, fim de primavera/início de verão, o calor dos trópicos, suor, nudez nos lençóis. 
O ar abafado, ferro de passar roupa na cama tamanho calor que sentia, tirei a camiseta, a cueca, e fiquei inerte, parado.

Pela fresta da janela a luz mortiça de uma lua minguante, fixei-me lá e pensei que o ar deveria estar mais fresco.
Denso, abraçado em mim, fazendo mais quente, na solidão.

Pela rua do distante bairro, nada de vozes, madrugada.
Pela casa, só ele mesmo, imóvel, quieto, também pela madrugada.
Suspiro aqui, ressonando um pouco.

Suor pelo corpo, música baixinho, baixinho um travesseiro abraçado, outro na nuca e o olhos fitados em direção à janela. Anos 70 eu julguei, 'abraço a tua ausência', demorei para descobrir, na verdade de um pouco antes.

Estalei os dedos dos pés, sem me manusear, pra baixo, para cima.
"Comecei', meu corpo desperto, coço aqui, mexo nele ali, sede, água gelada goela abaixo, garrafa ao alcance da mão.

Toda ela, até o fim, térmica, trincando, estômago cheio, barulho de água dentro, sôfrego. Algo eu tinha que fazer, 1/2 litro, preencheu-me um vazio.

Calor que abraçava meu corpo! 
Mesmo nu, por aquela noite tive receio de permanecer insone, repetência de alguns dias, teve um dia que me levantei e tomei banho. 'Mas não hoje' pensei, a música, o tempo, este era o nome, 'não era?'

No quase silêncio, entristeci-me e arrisquei umas lágrimas, poucas, silenciosas, as de sempre desde... Desde... Disto não quis me lembrar.
Salguei-me mais, o calor, o suor, o choro leve.

Fiquei um tempo, não sabia quanto.

Viro de lado, do outro, inverto, pés e cabeça, lembrei-me de nós por aqui mesmo.
Em outros verões, cama quente, caíamos ao chão, esfregávamos-nos sem parar.

O luar se foi, vi nuvens, um ventinho gentil se precipitou.
De repente, o vento ficou mais forte, mais forte, rangidos na janela.

Arrepio, pelos eriçados, saudade. Saudade!
Vento que abraçava, um sono vindo, levinho, levinho, última vez, 5h07, eu e as horas ainda abraçados pelo silêncio.

Nenhum comentário: