sábado, 9 de setembro de 2017

72] CENÁRIO SP - O ATAQUE DO LADO DEBAIXO DO EQUADOR

Arquivo pessoal, Bela Vista-São Paulo
Àquela hora do dia de intensa movimentação nas ruas e calçadas a chuva veio para compor ainda mais o ambiente de fim de tarde. Meio fora de hora, pelo menos na intensidade, porque caía forte e pesada em uma época de chuvas magras. 

Para não se molhar porque havia esquecido o guarda-chuva no metrô, ele acabara de entrar no grande shopping recém reformado, ali mesmo no Paraíso, perto de sua casa. A intenção era passar um tempo até a chuva ir embora.

Pensou então em um café que deveria ser, obrigatoriamente, do tipo expresso - sempre segunda opção porque gostava mesmo do coado. Mas mesmo assim, resolveu sentar na confortável poltrona, amargar suas papilas gustativas e ver o movimento na praça de alimentação. 

Subiu três andares pelas rolantes escadas sem pressa alguma e por fim chegou na cafetaria que ficava ao lado de uma chocolateria estrangeira, belga ele supôs. Conseguiu uma mesa estratégica, de canto, que lhe permitia ver os outros restaurantes e "espiar" quem entrava e quem saía. O cheiro misturado de pó de café com chocolate gelado fez grande bem ao seu cérebro, já cansado do dia extenuante na produtora de vídeo.

Local quase lotado com muitos tipos diferentes em um espaço democrático que prezava por esta questão. Casais de mãos dadas, carinhos e afagos sem ter fim; casais formados por sexos opostos e, pela tal democracia mais travestida em diversidade, casais de pessoas do mesmo sexo. E um grande número de adolescentes barulhentos. Claro, os rapazes e moças da segurança com as roupas pretas - característica básica.

Tudo pronto: café com açúcar (pouco, é verdade) - "dança sem par" - e uma garrafa d'água quase congelada. Alternar o gelado com o quente podia fazer um tanto mal ao esmalte de seus dentes, porém lhe dava um prazer de gosto incomparável e assim o fez, lentamente, só observando tudo e a todos em volta. E olha que "os todos" tornara-se em número maior, talvez em decorrência da chuva. Parece que era mais que uma tempestade de verão longe do verão.

E fortes tempestades acontecem com frequência mesmo aqui na cidade do Trópico de Capricórnio, do lado debaixo do Equador. E parece que cada vez mais e com maior intensidade; pensou, quando levou a xícara à boca que é até tranquilo a questão de desastres naturais na Pauliceia: terremotos, maremotos, furações e o escambau não vicejam por aqui. E mais: ele gostava muito das tais chuvas quase de verão.

E foi então que aconteceu. Em um átimo, a correria para lá e para cá. Gente se trombando, criança chorando, uma senhora caindo ao chão e barulhos de disparos vindo de sua esquerda. Um casal hispter todo ensanguentado; uma mãe com seu bebê no colo que chorava desgraçadamente; duas senhoras se amparando mutuamente. Telefones gravando e filmando tudo.

Os tiros, que ele conseguiu contar, foram uns 7 ou 8... Podem ter sido 10. Pensando nisto e já em pé com olhos, ouvidos, braços para lutar se for preciso e pernas - ah, sim as pernas - já de plantão para correr se tivesse que ser, passa na frente dele 2 homens vestidos e cobertos dos pés à cabeça no que mais pareciam ser como aqueles radicais islâmicos. E eram! Saíram gritando em árabe frases soltas pelo ar. Minutos de tensão!

Um barulho seco perto dele: ele se vira e vê alguns corpos ao chão, inertes e "a sorte" de ver também um funcionário do restaurante ao lado cair pertinho dele ainda tentando segurar suas entranhas que insistiam em se desmilinguir para fora. O último olhar foi de um pedido extremado de ajuda em direção a ele.

Descendo as escadas rolantes, os terroristas se deparam com a força tática e policial de elite embaixo e quando empunham novamente suas armas, atiradores postados alvejam e acertam bem no meio do coco de um deles e o outro no ombro. logo acima do coração. Dominados pelo brasileiros ao sul do Equador estes vindos dos infernos do Oriente Médio.

Pisoteamento, correria, gritos, crianças chorando, estilhaços pelo chão, sangue, pessoas ziguezagueando sem destino. 

Chorou em desespero. E continuou a chorar mais brandamente ao ajudar a amparar o pessoal que trabalhava na cafeteria. Um caos instalado aqui mesmo nos trópicos brasileiros. Em sua plenitude de até então pacifismo, a metrópole alfa do hemisfério, da paz antropofágica artístico-cultural, São Paulo, teria um câncer terrorista a espalhar o medo? 

Aqui, sob a linha do trópico?

Nenhum comentário: