segunda-feira, 4 de setembro de 2017

VIAGEM CCCXXXI - VENTO PELA FRESTA DA PORTA

Arquivo pessoal - Bela Vista, São Paulo/SP
Recebeu mais este (como dezenas de outros) vindo de um endereço eletrônico que lhe é desconhecido. Ele apenas arquivava e os relia depois:

"o vento, tanto vento que uiva pelas frestas das portas e janelas hermeticamente fechadas
(nem tão hermeticamente)

parece haver uma alcateia de lobos cinzentos que pastoreiam para comer uma presa
ou até mesmo o próprio pastor

ventania pelas frestas que o assusta tamanho é o poder de algo que não se vê
cheira-se, escuta-se, sente-se, tateia-se

pelo corpo desnudo, amarfanhado, largado pelo chão
após as horas de convívio que tira seu juízo

fá-lo perder o caminho de casa
(que perdição sem-fim)

fá-lo atrasar-se para a reunião
(se conseguir chegar)
o vento...
único companheiro depois da ida e saída...

pelos pés gelados aquele arrepio que percorre-o até a cabeça
e vem pelo vão do chão com a porta

lágrimas? hoje não, sequer as necessita
suspiros? não, o que tem é ainda a respiração ofegante

o cheiro de outro corpo em suas mãos e barba
(também em outros lugares)

esticado e preguiçoso de se levantar sente uma certa quentura no carpete 
confortável de madeira escura

da novíssima casa restaurada, recém inaugurada por eles
marcaram território

tomaram para eles o tal lugar, 
dominaram-na

mas o vento... Este não se pode dominar
nem aquele por debaixo da porta, nenhum

Para ele.. Basta se perder, desajuizar-se...".

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