sábado, 17 de setembro de 2016

VIAGEM CCCIII - SÃO PAULO, POPULAÇÃO: 2

Arquivo pessoal - Instalação CCBB - São Paulo
Andava tanto pela cidade que ainda parecia não conhecer todo aquele chão. Uma mancha urbana de centenas de quilômetros quadrados, com uma dúzia de milhões, do Itaim Paulista ao Jaguaré, de Marsilac à Cantareira. Conhecia algum lugar novo a cada semana.

Sempre que ia - também porque sempre que voltava - notava e por vezes anotava em seu telefone suas impressões acerca da cidade alfa do hemisfério sul; bem, aqui há uma mentira sem muita gravidade. 

Uma mentira antiquada na verdade, porque as tais anotações eram feitas ao vivo, com sua voz de locutor, no gravador do seu potente telefone de penúltima geração (o de última ainda seria preciso andar mais e mais por São Paulo). Debaixo de chuva ou de sol, no calor ou no frio. E na garoa, sem dúvida.

E ia pra quase todo canto da cidade. E pelas andanças, conhecia muita gente, dos mais variados lugares, com variadas temáticas, de diferentes pensamentos e jeitos de encarar a vida. Aí uma verdade: São Paulo é mesmo assim, nem poderia ser diferente; porque, aqui, tudo é superdimensionado, super transcendental e há aquele exagero dos milhões citados logo acima desta crônica.

Voltando a ele: homem comum - regular -, nem 0, nem 10, mas sim 5, às vezes um 6. Tipo que se vê aos milhões entre os 12 que cá existem.

Conheceu tanta gente e ainda conhecia. Preferência por alguém em específico ele não possuía. Às vezes acontecia de rolar uma "preferenciazinha", mas já havia algum tempo que as pessoas passavam e se iam... Sem choro e sem tristeza. Conversas mais fechadas, outras mais abertas, porém todas verdadeiras. Algumas ele se demora mais porque é um observador nato da linguagem corporal e por aí descobre tantas características. 

Em um dia destes, andando pelas ruas do Centro de São Paulo, em meio àquela multidão de ir e vir, de sapatos que não param, que ziguezagueiam, percebeu que com ele ou sem ele, a cidade seria absolutamente a mesma. Ser mais um entre tantos o igualava a estes mesmos tantos? Longe disto, porque sentia-se único com a firme esperança que sim teria mais algum que pudesse levar uma vida a 2.

12 milhões em São Paulo; ele é 1 só. 

Neste ir e vir diário frenético, interrompido apenas aos domingos e feriados, ele encontrou e logo que viu observou atentamente. Quis ser os o copo naquela mão, quis ser o jeans que envolvia aquele corpo, o banco de apoio. Observara com tamanha acuidade que, então de forma inesperada, veio até ele e logo começaram um longa conversa com toques sutis de mão, risos contidos (que depois passaram a ser escancarados) e um abraço. Parecia que ele queria entrar pela boca e ficar ali ouvindo bem de pertinho. Um abraço de afeto pela surpresa do encontro. Pôde sentir o cheiro no pescoço e São Paulo se tornou a menor cidade do mundo.

Deveria constar nos dados estatísticos: população em setembro de 2016: 2.

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