quarta-feira, 11 de maio de 2016

VIAGEM CCLXXVIII - A VIDA EM NÚMEROS

Arquivo pessoal - Praça do Patriarca/Centro SP
Alguns números o assustam, tamanha é sua impotência diante de alguns deles. E isto começou desde quando nasceu, em plena efervescência do "flower power", lá nas barrancas de algum rio do interior do estado de São Paulo: e sim, mesmo urbanizado por quase duas décadas na capital alfa do Brasil, a Pauliceia Desvairada, ele se auto intitula um caipira que se (re)descobriu na cidade dos 12 milhões. Nasceu prematuramente, de oito meses. E sempre ouviu dizer - não sabe se é verdade - que nascer de sete é menos perigoso que nascer faltando um mês. 
---- Mas agora estou aqui, já adulto.

Além da prematuridade, veio ao mundo sem chorar, o que lhe causou a primeira lição da vida daquela que vem com dor, despontou saído pelo método natural com apenas 45 cm. Hoje tem 1,88m. Talvez, se pudesse se ver logo que tivesse nascido, com a cara toda amassada, diria em bom som:
---- Este aí, que sou eu, não deve vingar...

Vingou. Mas alguns números, como escrevemos logo acima, ainda lhe causam espanto. Exemplos só corroboram o tal susto travestido de perplexidade. Fez o curso fundamental em 10 anos; tomou bomba nas duas últimas séries do antigo ginásio. E atente-se que ele não fazia parte da turma do "fundão" não. Já no secundário, ao contrário, passou ileso e incólume sempre fechando as notas no terceiro bimestre com nunca menos de 9,5 - e sua carteira era uma das últimas.
---- Foi a partir daí que começaram a me chamar de CDF. Hoje chamar-me-iam de nerd.

Ele teve que se aguentar, mesmo porque a possibilidade do revide, provavelmente, tornar-se-ia um fracasso total. Magro feito um espeto, igual a uma vareta, aos 14 anos já passava dos 1,80m, pesando nem 60 kg; causando piadas e somatizações advindas daquela. Branco e sardento que era (e que é), com algumas das espinhas espalhadas pelo rosto disputando espaço com a barba cerrada, firmara-se como o protótipo do adolescente desengonçado.; tropeçava amiúde com seus pés 41 (hoje calça 43).
---- Hoje minha barba espessa não precisa disputar espaço.

Hoje, passados os tais números, outros o preocupam. Contas, peso (com certo sobrepeso), senhas ("inúmeras senhas!"), contas bancárias, extratos, impostos... Quanto à performance sexual... Bem, a quantidade já importou mais e a qualidade era apenas uma consequência da quantidade. Ao menos tinha que aguentar três vezes em uma mesma "tacada" na cama.
---- Qualidade é mais gostoso de sentir e de ter, mas não dispenso duas vezes na quantidade se eu tiver tempo suficiente. 

A matemática da vida o assusta, é verdade. Salário de R$ 5.000? De R$ 10.000? Mais? Está prestes a ter um que alcance os - finalmente - cinco dígitos com uma razoável folga. Prometeram-lhe R$ 15 mil tão logo termine o 2º quinquênio.
---- Trabalhei quase de graça quando iniciei na profissão. Feito um burro de carga! Hoje ainda sou uma jumento, a diferença é que ganho até que bem. 

Quase morrera ao nascer, quase desistira de estudar, quase se adoentara ao longo das juventude, quase parara de cursar a faculdade. Quase... Quase...
Porém não! Fez o oposto de tudo isto. Nem sucumbira às rasteiras da vida. Rasteiras estas que foram e são muitas. E o número só se faz crescer ao longo dos dias de viver.
---- Melhor que seja assim. De tanto quase em minha vida, eu consegui. E eu consigo. 

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