quinta-feira, 6 de março de 2014

VIAGEM CLXXIV - EM CADA LADO; INJEÇÃO

Reprodução [endereço abaixo]

Das bem doídas, que deixam a gente doido de dor.
Em cada lado da bunda que é para ferrar mesmo, aquela injeção oleosa que demora a ser injetada para realizar o bem, combatendo uma infecção qualquer que seja que tenta se apoderar do corpo através de bactérias nuas e cruas, quente que intumesce o que não carece de intumescimento. Nada tímidas tais bichos (ele nem sabe o que bactérias são... "Se é que são alguma coisa além de se instalarem à revelia").

---Na parte da frente não toque, nem venha com esta agulha que arromba a pele e judia sem dó! Estou ficando de saco cheio desta injeção.
Disse em alto som, de voz tonitroante, para que logo cessasse o que deveria nem ser objeto de querência. O enfermeiro que resvalava os olhos para ele intencionando talvez outros desejos, nada objetou e fez o seu trabalho com cuidado extremo.

Palavrões dos mais chulos ele proferiu, sem medo, sem dó nem piedade; mesmo a porta estando fechado sem trinco porque apenas uma pequena "geladeira" de guardar instrumentos cirúrgicos funcionou como escora.

Segundos depois, pelo trânsito, pelo movimento de pedestres, pelos paulistanos, ele sobe a ladeira curvando-se levemente à frente pelas injeções dadas lado esquerdo e depois direito, com as mãos nos rins para disfarçar, porque um homem como ele - grande, um tanto alto, corpulento, barbado, um biotipo à cro-magnon -, nunca deve andar com a mão na bunda, mesmo que seja em cima, onde quase não músculo - o tal glúteos superiores.

Derradeira dor nos últimos passos da íngreme subida, típica de São Paulo, com seu relevo exigente de panturrilhas - das cabeludas ou não. Dor, muito dor! o ar lhe falta e os pulmões avisam que deve encostar no grande prédio dos anos 30. Ali, encostado, recuperando-se da dor, ele repensa no trabalho que ainda deve realizar antes que termine o dia: relatório e um gráfico de gastos com publicidade.

--- PQP!  Que dor dos infernos! Ainda bem que é para a cura definitiva desta porra de sintomas que apareceram. Em duas semanas no máximo vou ter que tirar todo o tempo de atraso que passo.

Com as mãos nos rins, um senhor de seus quase 80 anos pergunta para ele, ao vê-lo em tal posição - curvado:
--- É nervo ciático, meu filho? Dói né?
Sem pestanejar, ele responde.
--- É sim senhor. Dói como o cão!
--- Mas vai passar se você tomar algumas injeções para dor.

Atônito, ele anui com a cabeça e assim que o vovô se vai, ele começa a ri sem parar dele mesmo.
"O que seria de mim se não risse de mim mesmo? Nesta posição, curvado, com as mãos para trás e com esta cara de dor que estou fazendo... Deve ser engraçado".

O riso, pode-se dizer, amenizou a dor - uma de cada lado daquela maldita agulha. 

http://www.kitazato.co.jp/biopharma/INJECTION.html

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