quinta-feira, 18 de julho de 2013

86 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - SOBRE SEU CORPO

Reprodução [endereço abaixo]
Deitado na cama em uma manhã fria do inverno de São Paulo, ele acorda antes do despertador do celular, ainda com preguiça e vontade de ir ao banheiro, mas não vai. Imóvel sob os edredons pesados que abraçam seu corpo, pensa que este já não tem contacto físico com nenhum outro "e já faz tempo que nem sei calcular", o que fora escolha sua diante dos fatos rememorados com frequência por ele. 

Faz algum tempo, como sabemos e como já foi escrito, depois daquele dia da saída pela porta da frente sem explicações com apenas um "eu tenho medo e não posso continuar", ele quedou-se e ainda se queda solitário no castelo inatingível e intangível para todo o mundo que habita o mundo. 

Parado, cobrindo as orelhas com o velho gorro e vestindo uma cueca tão-somente, ele se põe a imaginar o que seria de seu corpo se acaso encontrasse outro para ajudar a carregar a bagagem e vice-versa... Aconteceram melhoras ao longos das décadas de existência, principalmente de uns 15 anos para cá. Porque? Bem, ele parara com os vícios que consumiam sua biologia e psique; demorou cerca de uns 20 anos para notar que do jeito que as coisas iam, não deveria chegar aos 50. 

Hoje, aos 40 e tantos, pretende ao menos ter mais uns 20 anos, "porque mais de 70, com tudo o que fiz, eu não chego. Adiante desta data, acho meio improvável", para realizar, ou ao menos continuar tentando, seu grande sonho que se tornara mais do que um sonho: uma vontade que por vezes o angustiava - publicar seu livro, um romance de ficção com viés verídico, ambientado em São Paulo, com apenas quatro personagens.
Então, seu corpo, por vezes, pedia uma companhia para poder trocar pele, saliva, secreções, cheiros, prazeres... E de uns tempos para cá, este pedido aparecia com mais gana. 

"Será mesmo que é o corpo que pede? Hum... Como é isto de o corpo pedir sem 'consentimento' da cabeça? Não é isto... Eu sei, aprendi que quem manda mesmo é o que está por dentro dos ossos do crânio. Queria que fosse de outro jeito, mas sem jeito de ter este outro jeito... Cadê a concentração logo de manhã? Deve ter ido embora..."

Ganhara alguns quilos nestes anos, as entradas no desenho do cabelo castanho indo para o ruivo aumentaram e o efeito foi muito bom: antes muito magro e cabelos compridos. Hoje, com a barba feita dia sim, o outro também, milimitricamente calculada, o deixava com aspecto saudável. Sim, ele vem se cuidando biologicamente com mais rigor: exames de sangue, de próstata, diabetes e tudo mais... E adquirira os quilos formando uma leve - pequena - barriga que conferia um aspecto másculo, algo como uma "distração masculina sem exageros", segundo sua secretaria que saíra por motivo de gestação. 

O fato é que a masturbação, esquecida por um bom tempo, voltara a carga e ele bem sabe o que isto pode significar: uma hora a prática da punheta cessará de lhe dar prazer e aí então a coisa toda vai desandar no alto castelo na grande urbe. Já experimentou estas fases - tanto de sim, quanto de não se masturbar -, só que agora lhe parece fustigante.

"Devo estar ficando louco, sem foco, só pode ser, porque devo focar no trabalho e deixar de lado estas necessidades que não me convêm em nada, ainda mais que eu estava tão tranquilo, sem vontades... Só que virei um punheteiro de marcar maior de umas semanas para cá. Nem faço nada, só me vem mesmo a vontade. Cabeça pensante que não tem me ajudado no corpo não..."

O relógio toca pela terceira vez, depois de 10 minutos. Ele, estourando de vontade de correr para se aliviar do chamado da mãe natureza, impedido fica por alguns minutos em decorrência da ereção matinal. Espera... Espera... Seu corpo, mesmo que ele não desejasse, ainda que tentasse desviar a atenção, apresentava sua grandeza "ditatorial" dentro do castelo: ali, seu corpo desprotegido está dos pensamentos...

http://www.ten24.info/?p=899

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