sábado, 25 de fevereiro de 2012

32 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - FRENÉTICO QUADRIL

Reprodução, quadril humano
Qual é o motivo de tanta correria, de tanto vai-e-vem, que apressadamente, por vezes, esbarra-se em outro alguém, mas ao menos nem se nota? "Melhor eu não notar nada mesmo". Pode ser o que for, o que vier, quem seja, ele está mais recluso do que seu castelo trancafiado a 14 chaves.

Caminhava pelo espaço solitário só seu como aqueles que perambulam horas sem olhar para trás. Certo que, voltava à cozinha, à sala; deitara-se no corredor. Banheiro, para atender o chamado da mãe natureza de quem ficou entornando goela adentro líquidos vários por quase toda a noite. Tomou um banho morno naquele início de manhã com a música em uma rádio sintonizada quilômetros e quilômetros dali, baixinho, quase um sussurro. Do outro lado do Atlântico.

Veio naquela tarde anterior para a cidadela intransponível ouvindo os ecos do carnaval. Sambava como aquele finlandês no sambódromo que vira pela TV: a malemolência era a mesma "tamanha sua desenvoltura" em arrastar pés, mexer quadril, balançar braços. Riu com esgar de si mesmo e do mico "carimbado em papel ofício" do gringo mais branco que bigato de goiaba.

Ad infinitum, o ritmo frenético não lhe contagiava. Carnal demais, estereotipado demais e chato em demasia. Gostava mesmo é do vai-e-vem dos quadris febris que por um triz, certa vez, não avançara como um leão em uma traseira desguarnecida, digamos assim. Contumaz apreciador da retaguarda nacional, aqui via-se repetir o tão detestado senso comum.

Depois do último copo d'água, mais de meio litro, deitou-se ainda com o frescor da garoa do finalzinho da madrugada na carpete cinza escovado e lavado. Não havia manchas, pelo menos não no carpete.

Remoeu fatos em que perdera a cabeça "no vai-e-vem dos seus quadris" em tempos até que próximos. Contudo, não havia consolo para tanto: fora embora andando sem sequer suspirar e ele olhando aquele molejo que o fazia perder o juízo, o caminho de casa e qualquer outro compromisso que fosse... Apertou-lhe o peito a saudade oceânica.
Chorou, gemendo baixinho, esfregando os olhos e o nariz.
Recompôs-se em seguida.

--- Prometi que depois quer adentrasse neste castelo naquele dia de forma tão vigorosa eu cessaria de chorar para sempre por quem quer que fosse. Para que mesmo? Eu não mereço isto, ficar triste por alguém que me abandonou bem na hora da sessão coruja... No meio da noite para nem deixar um mensagem... Um bilhete... Um nada. Tenho que ser severo comigo, sem dó.

Gemia mais baixo ainda. As paredes ali não tinham ouvidos, o problema residia no fato de que se ouvir chorar tornara-se vergonha unitária única para ele.
Viu o Felino vir preguiçosamente caminhar em sua direção, espreguiçando-se charmosamente como os gatos fazem. Rex? Este dormia esparramado a sono solto no tapete felpudo - que um dia fora branco - ao lado da cama do senhor do castelo; pulou com cuidado em seu peito e ronronou em um sossego que estirpou o 'desassossego de Fernando Pessoa' que sentia como nenhum vai-vém frenético de quadris fizera. Aquietou-se e dormiu ao lado da grande sacada.

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