domingo, 10 de abril de 2011

038 - SÃO O QUE SÃO

Lá naquele meio-dia de chuva, de sol, de vento e de tudo o que faz de São Paulo ser o que ela é - megalópole linda, brava e acolhedora - Duílio a pensar nas pessoas no chão a ziguezaguear em rapidez que assustaria qualquer guepardo. Um café preto, forte, quase sem açúcar a fumegar pela enorme xícara.
"Elas, as pessoas, são exatamente o que elas são. O Simão vive falando isto para mim. Lembro bem. Naquele dia que vomitava bílis, contraindo o estômago como eu nunca fiz, ele ficou batendo nos meu tímpanos sua voz grave e rouca afirmando que eu deveria ser mais atento, mais cuidados com quem eu me relaciono.
então, sempre há que se fazer um jogo? Armar estratégias?
Não se pode fazer aquilo que eu tenho vontade? 
Não, pelo visto não pode. 
Olha, as formigas lá embaixo começaram a correr da chuva. Vários guarda-chuvas, preto 90%, cinzas, alguns rosas...E isto é cor para o guarda-chuva? 
Só rindo mesmo.
São jogos, artíficios e eu nunca fui bom nisto. Bem que o Simão podia ligar. Faz tempo que não conversamos... Bem, desde anteontem.
--- Duílio, seu verme preguiçoso, o que você está fazedno?
--- Cara, pesei em você agora. Sério mesmo.
--- Tomar um sorvete? Naquela do Ipiranga que tem sabores o cacete a quatro? 
Com esta chuva diluviana ele quer tomar sorvete.
--- Passe aqui. Só vou pôr uma roupa mais decente para gente gelar a goela.
--- Decente? Vai assim mesmo.
E ri desbragadamente, só ele mesmo."
Ele pensa que além disto tudo deve haver uma companhia, um ser de verdade, sem jogos, artimanhas. Simão era o que mais se aproximava.

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