sábado, 9 de abril de 2011

037 - RAIZ E VIAJAR

"Viajar à toa sem ao menos deixar os pés plantados em algum lugar. Sabe aquela coisa de fincar raiz. Onde? Raiz? Nem sei mais onde é isto por que estar ali, ou lá... Não faz a mínima diferença. E olha, não é não para sentir pena, nem devo auto-imolar-me porque quem faz isto são aqueles loucos islâmicos de Gaza e alguns cristãos nas Filipinas. Não sintam dó não.
Passao ao largo desta galé romana navegando pelo Mare Nostrum.
Bem que eu queria estar cercado de terra como o mar imperial de Roma. Terra cria raiz não é mesmo?
Mas meu pés nem de barro são; carne, osso, artérias, pele, unhas... E isto tudo cria raiz?
Verdade que relevante mesmo é o dinheiro e viajar, com ele em mãos, eu iria para lugares bem diferentes: nada de Nova York, Milão ou Hong Kong. 
Sabe aquelas cidadezinhas perdidas no mapa que só aparecem quando a escala é aumentada? Então, são estas.
Gao, Moroni, Malé para citar algumas. E só em lugares quentes. Frio... Suficiente é meu corpo.
Calor só faz bem.
Pode ser em Tefé, Castries, El Alaiun.
E as raízes que eu falei lá no começo?
Olhem só: para ver, viver, compreender o mundo todo que cabe aqui dentro em tão pequeno pedaço do meu corpo, eu preciso de calor. Minhas raízes criar-se-ão onde eu estiver indo.
Bem que o Simão grita comigo quando e enquanto fico falando disto. 
Acho que eu levaria o Simão para Lobito ou Beira.
Vou ter que convencer porque ele é tão... Tão... Tão... Pragamático, resolvido, desencanado, fincado raízes e ele vai escutar o que tenho a contar."
Duílio caminhara até ao parque e ficou sentindo o cheiro de terra molhada sob um sol a pino, suando e vertendo química pelos poros.

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