quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

032 - NA MANHÃ CINZA

Dentro do receptáculo do grande armário embutido, Duílio resolvera ali passar toda a manhã - na verdade, desde a madrugada - para que não pudesse resvalar nenhuma nesga de sol adentro. Não havia sol, porque o céu dominante estava mais para marujo que para brigadeiro. O telefone celular dentro da mão direita todo molhado pelo supr que escorria apertava-o freneticamente.
Esperaria uma ligação de simão com o bálsamo que era ouvir a voz do amigo de todas as horas e dos momentos delicados. 
Quando chegou em casa vindo de um 'lugar' bacana do Jardim Paulista, passaram antes em Vila Monumento e pegaram o que deveriam não ter pego; ao menos então, deveriam ter comprado mais cedo, quando ainda era noite do dia anterior.
Rodaram 200 quilômetros dentro da cidade, indo para lá, para cá... Beberam e fumaram. E conversaram sobre a filosofia dos homens que oprimem aqueles que por alguma razão mínima ou máxima são diferentes. Citando a música do poeta, Simão lhe falou que as semelhanças prevalecem porque todo mundo é meio parecido quando sente dor. 
Exato. A dor que agora sente, como Camões, não tem conserto. Sua cabeça martelava e as pernas dobradas começavam a formiga. Seu pau, apertado entre elas e os bagos dava sinais de desespero.
Escuro, a chave de casa no bolso do shorts, peça única. 
Ainda eram 7h45 da manhã e o gris lá fora mantinha tudso dominado. Emputeceu-se porque lembrara que o isqueiro quedava-se longe dele... Quer dizer de dentro de onde estava; o cigarro apagado entre os dedos da mão esquerda se umedecera.
Suava; e o suor escorria pingando de seus suvacos cabeludos, nas costas ia descendo e no bigode pôde sentir o salgado da química que o corpo produzia.
"Porque ele ainda não ligou? Acho que conseguiu dormir... Bom, grande sorte dele".

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