terça-feira, 6 de outubro de 2015

VIAGEM CCLVI - BREVE POEMA DE UM MENINO SEM PAIS

Arquivo pessoal

pelo dormitório, pesadelo
pelo refeitório, indigestão
pelos corredores, frios, escuros
lamentos, gemidos
dissonantes
de variadas tessituras

à direita
à esquerda
ao fundo (e em todos os lugares)
sempre parece mais longe
mais escuro
empoeirado

como se apenas dores sem cores
tivessem passado por ali
pelas escadas, lances,
mármore subindo
pelo cimento debaixo
no campo grama e suor

quase uma brincadeira
em corredeira, gritos
um pouco de alegria (mensurada em minutos)
horário de com rigor de uma
rigidez escarrada e
rude, rasteira e às vezes, marrenta de teimosa

tudo pela semana
dentro daqueles dois quadrados
demoradamente distantes da cidade
danos para muitos, deméritos para ainda mais
doutores nada doutos desenham
perfis e personalidades à revelia dos órfãos

e no sábado e domingo
vem então aqueles
dois que de felizes ao vê-lo 
choram e riem e sorriem em um
contacto físico, abraço
aperto, amor, grudados

papéis, o tempo, burocratas 
controversos e distantes: demoram-se  por horas
de fundamental, porém, só a acolhida
a ida para a nova casa e o novo tempo
de um poema de um menino sozinho e
que (agora) terá companhia pela vida

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