sábado, 16 de outubro de 2010

026 - SEM SOBREMESA

Mesmo que a nítida sensação de não pertença a nada, a nenhum estrato social, a nenhuma orientação... Duílio pensava que poderia dar um jeito ainda em algumas coisas de sua vida que vinham cronicamente (inviável de vez em quando) se arrastanto como corcundas que arrastam os pés pelas catedrais em Sitka ou em São Miguel do Gostoso. O prato do dia era sempre o mesmo: um arroz com feijão meio sem graça, com carne de mamute que tem que se caçar todo santo dia. 
A esperança de vivenciar uma mudança radical percorria em frêmito seu corpo e que eriçava os pelos abundantes em alguns lugares e escassos em outros de seu corpo um tanto cansado da escuridão do poço em que havia se metido desde... Desde... ele não sabia mais desde quando. A subida até a boca do túnel, tortuosa e feita algumas vezes de descidas e subidas, o deixava prostrado. É o que ele chamava de "crônicos" pensamentos e modos de reação. Talvez se fosse mais assertivo e não ficasse elucubrando tanto porque isto, porque aquilo, porque assim...
Esperançoso na humanidade, nem tanto com relação a ele, piscava forte os olhos para ver alguma luz. E abria as narinas para sentir o doce cheiro do doce feito e assado na infância e que o fazia correr da rua para a cozinha de chão vermelho.
"O problema é que a mamãe não dá sobremesa... pelo menos para mim".
Raciocinava pela esperança que depositava nos homens em geral porque não gostava de especificar este ou aquele, uma vez que todo mundo é parecido quando sente dor. Este sentimento o ajudava a destravar o ranço que sabia poder se manifestar em seu pensamento, mesmo em indo de encontro a sua 'nada' esperança. simão, o amigo de (quase) todas as horas, o verdadeiro contraponto, auxiliava - luxuosamente sem pandeiro - no que podia e no que lhe cabia. Proporcionava deleites capitalistas ao 'pobre' e 'crente' Duílio. 
Parece que a sobremesa era posta à mesa e que deveria ser comida com em um butim pantagruélico de rapina, escarnecendo todo o restante. Quebraria algum dente se chegasse como hienas esfaimadas (que possuem mordida de quebrar ossos.
"É osso! Quando se tem a sobremesa, pareço que mais 'alguém' tem que se foder". Referia ao próprio e não ao mundo.

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