sábado, 15 de fevereiro de 2014

VIAGEM CLXXI - TRAULITADA

Reprodução [endereço abaixo]
Pelos caminhos suarentos do centro de São Paulo neste fevereiro que ferve, torra e assa, um deles sempre feito para ir embora, lá pelas tantas do fim de tarde do horário de verão, ele ouve a música. Porque para passar por ali e não ouvir "que tudo passa, tudo passará..." não seria passar de verdade pela calçada com o mapa do Estado de São Paulo em preto e branco, como convém a um chão de valor desta gente que habita por aqui.

A voz tonitroante traulitava em seus tímpanos, esganiçando-se como um político loquaz. Parado em frente à tal loja que vende quinquilharias de Taiwan, da China continental a preço de banana e com qualidade de jaca podre, resolve sentir a brisa fresca que começa a soprar quase à noite agora. Tudo dependurado como os encarapitados de Xangai.
Porque parar ali, em meio ao trânsito de transeuntes que saem esbaforidos para embebedarem-se antes de retornar para casa?

Um passar rápido com os olhos castanhos da cor da tempestade que se aproxima, percebe que a vida é mais, muito mais que casa-trabalho-trabalho-casa. E as horas de sono, à qual sua em bicas, dorme pelado e banha-se pela madrugada.
A música se repete. E cada vez que escuta a voz gritando "que nada ficará" relaciona a letra dos versos com sua própria vida. E soma as quantidades de traulitadas impostas, de traulitadas procuradas.
Firme e rígido como um rapaz de 20 anos ao se encostar de frente em qualquer coisa, objeto ou alguém, ele se mantém até agora em boa condições de cérebro e de corpo. 

"E para meu governo mesmo, minha cabeça afetiva vai bem também, que é meu coração, pulsando e descansando. Porque que venham safadezas e traulitadas. Incompreensões, que são as piores coisas que podem acontecer a um homem como eu. Mas firme e forte. Rígido como sempre em toda a minha vida".

Trocam a música. Seus ouvidos o alertam do fato. Seguindo então a pé, dirige-se ao metrô da Praça da Sé, noite caída já, sozinho com sua mochila a tiracolo. Os noias fumam a pedra ali por perto, em uma das entradas; guardas civis e seguranças do metrô chegam e os dispersam. Confusão, correrias, xingamentos, quedas, cacetadas. Aplausos por parte de alguns cidadãos. Uma faca, um guarda cai ao chão, sangrando no ombro e desfalece. O também agressor tenta escapare mais é impedido pelos companheiros de farda. Porradas, tapas e a traulitada do telefone nos escutadores do rapaz.

Traulitada como esta... O preparo é mais social que psicológico. 
"Todos nós somos agressores e agredidos. Mas tudo passará".

http://www.mercurynews.com/business/ci_24694395/techs-nsa-fight-is-battle-profits-from-users

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