sexta-feira, 6 de agosto de 2010

017 - SOBRE O SUICÍDIO V

Nestes dias de frio antártico aqui em São Paulo, cidade que ele adotara para si a despeito de alguns detratores conhecidos e de outros estados, Duílio se via como um encorujado dentro de casa abarrotado de roupas por sobre sobre o corpo. 
"É assim mesmo! Parece que quanto mais roupa eu ponho, mais parece que o inverno bate à porta querendo tomar conta de tudo e invadir meu espaço. Que aliás, é um iglu digno de esquimós groenlandeses".
A sensação de tudo estar frio à superfície, feito lâmina afiada, o atormentava. Nunca gostara do inverno mas de alguns anos para cá passou a quase a odiar... Tudo que fosse relacionado ao inverno. Ele associava inclusive uma melancolia intrínseca a este período do ano: tudo quedava-se mais quieto, menos colorido; tudo fechado, a luz do sol impedida por massas polares de se mostrar rei em sua plenitude.
"Como é viver na Groenlândia? Deve ser uma tristeza sem tamanho, as pessoas interditadas de alegria. Sibéria, Alasca, Canadá, Islândia...! Socorro".
O que ele arquitetara na sua cabeça um tanto vazia - mais de coração um tanto bom - se reproduzia nesta época do ano com relação ao inverno: uma 'morte' hibernada, sem condições de movimentação, de atração de uns pelos outros.
"Sim, porque o inverno, se diz por aí, aproxima as pessoas, mas é uma mentira bem deslavada. O inverno as pessoas ficam mais em casa, usam menos cores, o sol é mais fraco, há menos vida. E isto não é uma maneira sutil de morte?".
Em longas discussões com Simão,  ele afirmara que leu um estudo o qual demonstra que o índice de suicídio é, "relativamente, estou frisando", em países gelados é maior que nos 'tristes trópicos' e que este tal índice aumenta no inverno e neste inverno as horas das noites cortantes e geladas são as 'preferidas' pelos desvalidos que se matam.
"Cacete! Fico imaginando um cara suicida, só, no frio, desnorteado. Se ele olhar a neve, a monocórdica colaração... Certeza que isto não ajuda em anda. O inverno é preto e cinza. O calor de tão bom que é, abarca até o branco e o preto. Mas as cores dominam e são quentes. Pulsam, as cores suam".
Para Simão junho, julho e agosto relacionavam-se a ganhar mais $ e poder exibi-lo a quem quisesse ou não ver. Os ternos impecáveis comprados nos arredores da Oscar Freire compravam. 
Para Duílio...Inverno para ele significava um tipo de morrer por algum tempo

Nenhum comentário: