segunda-feira, 9 de novembro de 2009

ESTERÓTIPOS PODEM CONTRIBUIR COM MAIS INTOLERÂNCIA

CADÊ OS OUTROS?

Então tudo é baseado no maldito estereótipo? Eu, você, a mídia, intelectuais, o capital, a massa “ignara”, o governo se pautam em burlar a grande diversidade humana que existe de Vladivostock a Punta Arenas, de Akureyri a Nukualofa, de São Miguel do Gostoso a Goa. E olha que eu estou falando em quase 7 bilhões humanos que pululam por aqui (os números mais exatos mostram 6,75 bi) e que por razões geográficas, históricas, culturais, econômicas, genéticas e, por último mas não menos importante, comportamentais diferem uns dos outros. Caetano disse que “de perto ninguém é normal”, o que me alenta. Sim, creio que sejamos todos ‘anormais’ e não diferentes... Diversificados cabe melhor em alguns aspectos.

Insistir em reforçar estereótipos apenas e sempre é minorar uma pessoa ou grupo sejam quais forem. As pessoas são mais do que estereótipos, mesmo que estes dominem ou pontuem as relações entre nós. Reduzir e marcar uma pessoa somente por ele... Não me parece inteligente tampouco melodioso.

Entretanto, o que se vê é uma tentativa de nivelar e igualar os seres segundo as ‘convenções’ ditadas ao longo dos séculos e séculos. Para que sejamos mais hermeticamente similares porque sendo assim o domínio baseado na manipulação viceja de forma mais frondosa. O poder é aterrador de inebriante para determinados espécimes humanos. Estes gostam da adicção e não arredarão pé fácil não!

Quero chegar aos estereótipos humanos. Discorrerei, ou melhor, citarei alguns apenas.

- as loiras são burras (ou abarcando mais: as mulheres gostosas também)

- todas querem ser popozudas do funk aqui em Vera Cruz (“... nem toda brasileira é bunda, meu peito não é de silicone...”)

- jogador de futebol é analfabeto de pai e mãe (e demais atletas)

- político é corrupto (nossa esta eu reconheço: é difícil não mergulhar no dito estereótipo)

- todo cdf – agora se fala ‘nerd – é magrelo, usa óculos e não gosta de esporte

- os ferreiros de academia são obtusos (incluem-se surfistas e afins)

- negro é pobre e/ou favelado (para alguns muitos, nem chegamos a 1888)

- negro dirigindo carrão é motorista (deste a gente ouve inclusive as variantes: são empregados domésticos apenas para citar mais um)

- favelado é bandido (sendo assim, há milhões de bandidos espalhados?)

- mendigo é mendigo porque quer (“ora, quem mandou não estudar” é o que se ouve)

- puta é puta porque quer (esta é machista até o último pêlo dos bagos)

- pobre é ladrão (como se pobreza determinasse carácter)

- rico é canalha, e fez patrimônio roubando os outros (como se riqueza determinasse carácter)

- gay homem é afeminado e gosta de se travestir (tão recorrente e pequeno)

- lésbica é masculinizada e bate um bolão no bilhar (tão recorrente e pequeno também)

- gordo é infeliz e come porque quer (este incutido por vezes nos próprios, o que pode causar uma ‘miséria’ sentimental absurda)

- policiais militar e civil são ‘subornáveis’ (reduz-se a um bando de fora-da-lei agindo ‘em nome’ da lei)

- barnabé é vagabundo e faz corpo mole (e como funcionam hospitais, delegacias, escolas, repartições públicas etc, etc...?)

- viciado se vicia simplesmente porque tem a cabeça fraca ou o que é pior: porque quer (“o cara tem que ser preso!” É o que se escuta)

- motoqueiro é folgado no trânsito (não respeita as respectivas leis)

- paulistanos vivem para trabalhar e São Paulo é feia apenas (pouco para definir a metrópole brasileira)

- cariocas são vagabundos e o Rio é lindo apenas (pouco também para definir a outra metrópole)

- a imprensa brasileira quer desestabilizar o governo petista (claro, para eles basta que não concordemos que já se prenuncia uma desestabilização do regime)

- brasileiro gosta da tríade: samba/carnaval/Lula (a maioria por vezes pode ser tirânica)

- brasileiro é um apaixonado nato por futebol (viva a diferença. Há muitos que detestam)

- Hollywood só faz filme “americanóides” (de uma pobreza atroz reduzir a cinematografia americana às patriotadas filmadas)

- americanos irão destruir o mundo (pois bem: e quem vai impedi-los? Os chineses? Analisando sob esta ótica eles não querem também destruir mundo?)

- comunistas comem criancinhas (acho que este está em desuso... Nem sei se ainda tem maoístas, leninistas, stalinistas e trotskistas por aí)

- orientais no Brasil não se misturam aos brasileiros (ué, mas japonês nascido no Brasil não é japonês... É brasileiro)

- os muçulmanos têm Osama como herói (o Islamismo não é uma religião que propaga a violência)

- empresários exploram e arrancam o couro do trabalhador (e com que intuito? Até deixá-lo sem nada?)

Nossa. A lista é imensa.

O que fazer com estes questões arraigadas nos neurônios dos homens. Eu sinceramente não tenho a resposta. Digo, de toda forma, que lutar dentro de cada um nós para que saibamos que os tipos de nossa espécie são tão diversos. E não é só a digital que nos personaliza.

Somos uma amálgama de genes (bons e ruins), de geografia, de educação propiciada pelos pais, depois pela vida...

Onde estão aqueles discordantes dos estereótipos?

Soa como restrição estereotipar cada vez que se analisa (aqui o termo é bem amplo) o outro. Alguns detratores podem afirmar que eles existem e saltam aos olhos. Claro, nunca neguei o fato. Creio, por outro lado, que as manifestações humanas situam-se um patamar muito mais elevado do que simplesmente os estereótipos sociais aos quais submetemo-nos e resignados, portanto, perpetuamos.

Quão grave é isto?

Bem, basta ver a carga explosiva de preconceito e intolerância que de modo geral carregamos. Um mofo que vai se alastrando tomando conta de nossa lucidez.

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