sábado, 5 de novembro de 2016

VIAGEM CCCXI - O TEMPO MANDA

Arq. pessoal - passarela sob a rua da Consolação/SP

Nestes tempos de tempo pouco, ele bem se casa comigo com acerto inequívoco. Devo morrer tão logo acabe um sonho de um tempo em que ainda eu sonhava que tudo daria certo.
Pouco deu certo? Bem, o que afirmo é que muito deu... No que deu até agora.

Neste novembro louco fora do tempo de frio, ele tem nuanças de inverno em uma primavera que parece que não tem dado lá muito certo.
Que tempo insano, desatinado e desabrido em cinza nublado que cai sobre a cidade que eu amo, que me seduz. Talvez não tinha ido embora deste tempo pelo tempo que São Paulo ainda me dá: o tempo de caminhar debaixo de chuva de verão. E da garoa.

Ah, esta tal garoa: fina, quase invisível, tida como inofensiva. 
Que nada!
Ela molha, encharca você e traz a umidade que pode mofar tanto.
Só eu não crio mofo. Poderia bem criar aquele musgo carregado de esporos pelo ar pronto para que eu os inale para atingir os alvéolos, só pra criar um gato ronronando dentro do meu peito.

Todo o tempo do mundo?O que é isto? O tempo de dar a volta pela linha do equador?
O tempo para que o câncer seja jogado nas doenças vencidas pelo bicho sapiens?
O tempo de pensar, refletir, desculpar-se, do auto perdão?
Que tempo é este? 

Quisera eu saber... 
Mas acho que nunca saberei nada vezes nada.
Sigo então do jeito que o tempo me deu ainda por alguns anos. Bem que poderiam ser - os tais anos - décadas. Aí paro e penso: por que ainda desejo tantas décadas se tudo deu no que deu sem que eu conseguisse dar uma contribuição para curar, ou ao menos para refrear, os desmandos, a arrogância, a vaidade, o pão-durismo, a empatia.

Empatia. Longe foi o tempo que me esforçava. Sobrou mesmo este pouco tempo que ainda detenho para um controle (?) mínimo do caminho que tenho.

Dor pelo passar do tempo? Nem penso nisto porque o tempo é assim, feito um novelo que vai se desfazendo da grande bola e que diminuindo, diminuindo até chegar ao fim. nem serei lembrado findadas algumas décadas. Por que? Porque o tempo assim quer, assim deseja e assim manda.


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