quarta-feira, 16 de novembro de 2016

61] CENÁRIO SP - TROPEÇOS E TRAMBIQUES NA MOOCA

Arquivo pessoal - São Paulo
Tropeços e trambiques: aprendera tanto um como o outro na infância (e ao longo da vida o segundo) ainda naquela Mooca dos anos 70 que parecia guardar - parecia - semelhanças com o bairro que atraiu tantos imigrantes, italianos em especial. Mas isto acontecera no século passado, ou até no fim do século XIX.

Da família que nascera, até hoje havia parentes que moravam por lá. E alguns destes nas mesmas casas, falando o legítimo mooquês bello, gesticulando à italiana, expressando em palavras catadas pelos dialetos da Velha Bota: napolitano, veneziano, siciliano e outros.

Ele se mudara na virada dos 20 para os 30. Não sabia ao certo em que ano fora. Agora, tinha apartamento na Vila Mariana, no ponto mais próximo desta daquele de onde parara tropeçando e realizando trambiques durante a infância e adolescência. 

Se São Paulo tivesse limites internos fronteiriços, ele diria que morar no Centro-sul-leste. E existe tal região geográfica? Bem, para ele sim. Afinal, situar-se no primeiro bairro da zona sul, perto do Centro e ainda ter um rabicho de limite ali na Mooca... "É o quê, belo?", respondendo com outra pergunta. 

Os negócios espalhados pela cidade auferiam lucros mesmo em anos de crise. Implacável, sem medo e sem dó. Histórias mal contadas, e as bem contadas também, não o demoviam de cobrar e exigir sua parcela. Repetindo: sem medo e sem dó. E com muito prazer. Porque desejava ser rico e poder viajar 3x por ano pra fora e comprar imóveis em algumas cidade do Brasil; na verdade, almejava mesmo uma fazenda lá em Mato Grosso do Sul e ter um jatinho para poder se deslocar até lá. E claro que um helicóptero para se movimentar pela cidade de São Paulo e evitar o trânsito nos horários de pico nas artérias paulistanas. Gostava mais deste último e para poder voar pelo céu paulistano.

Importante ressaltar que, à época do escrito acima, ele estava ascendendo rapidamente no setor de negócios que ele criara sem praticamente ajuda de ninguém. O contrabando de quinquilharias vinda de um país vizinho rendia bem. Mas ele queria mais, muito mais. Os trambiques continuavam a dar certo atingindo metas sempre maiores mês após mês. 

Para tanto e para mais que viria no futuro, o escritório dos trambiques mil, situado na Mooca, de arquitetura discreta, tinha cerca de 30 funcionários e trabalhava sem parar de segunda a sábado. Mercadorias de todos os tamanhos e de preços variáveis agradavam à perfeição a clientela formada por negociantes menores. 

Resume-se que na arte de realizar os trambiques ele conseguira um feito e tanto: sucesso, mesmo depois da meta dobrada de queda no PIB. Já no quesito afetividade, vivia aos tropeços e só não era aos trancos e barrancos porque há muito que não "barranqueava" ninguém. E quando tentava, timida ou ousadamente, era uma verdadeira derrota sem fim: tropeçava e caia feito mamão podre de maduro. Poderíamos dizer que o tropeço era cinematográfico.

Continuava tentando, sempre com esperança renovada. Mas era bom mesmo na arte da "trambicagem". 

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